O camponês e o burro
Era uma vez um camponês que tinha um burro. Certo dia, o animal caiu num poço e não conseguia sair de lá. O camponês tentou várias vezes libertar o burro, mas nada alcançou.
Pediu ajuda a uns amigos. Nada!
Todos os esforços pareciam inúteis.
Ao fim de vários dias, desistiu. O poço estava seco e o burro estava velho. Enterrá-lo lá, parecia ser, a única solução possível.
Pegou numa pá e começou a deitar terra no poço. O burro ficou desesperado ao aperceber-se do que estava a acontecer. Começou a zurrar cheio de amargura. Fazia dó ao camponês, mas ele não via outra solução.
Até que num momento determinado deixou de ouvir o animal. Aproximou-se com temor da boca do poço para contemplar a situação.
Então, viu algo insólito. Cada vez que o burro recebia a terra sobre ele, sacudia-a com decisão e pisava sobre ela. Com esta operação, na qual estava profundamente concentrado, já tinha subido mais de um metro dentro do poço.
O camponês sorriu e continuou a deitar terra. Em pouco tempo, o burro estava cá fora.
Todos nós temos dificuldades na vida. A diferença está no modo como reagimos diante delas.
Existem pessoas que passam a vida a queixar-se. Deixam-se soterrar pelas contrariedades e são pessimistas por natureza. Olham com ironia para aqueles que parecem felizes. Pensam que são ingénuos, que ainda não descobriram que esta vida não tem sentido.
Nada vale a pena porque, como diz o poeta, a alma é pequena.
Um cristão sabe que isso não é verdade.
Sabe que foi criado por Deus por amor e que está chamado a viver com Ele para sempre na eternidade. Sabe que a sua vida tem sentido e que também o têm as dificuldades que lhe surgem no caminho.
Apoia-se numa profunda confiança em Deus e acredita que Ele não permite nenhum mal do qual não possa tirar um bem maior. Esta certeza fá-lo encarar as contrariedades como aquilo que são: uma oportunidade para crescer.
Por isso, quando as dificuldades aparecem, sacode-as de cima com esforço e optimismo. Também com a serenidade de quem sabe que a felicidade em plenitude não pode ser alcançada nesta existência.
E depois pisa essas dificuldades e assim robustece a sua fé. Diante das contrariedades não perde a paz, porque sabe que tudo procede do amor.
Tudo está ordenado à salvação do homem, e Deus, que é Amor, não permite nada que não seja com esse fim.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia