O sorriso
Era uma mulher simples e sensata. A páginas tantas, durante a entrevista, o jornalista fez-lhe uma pergunta directa e inesperada. Talvez até, um pouco indiscreta, por estar completamente fora do tema específico daquele encontro.
«– Como é que consegue estar sempre a sorrir? Porque é que temos a sensação de que está permanentemente contente?».
Sorriu abertamente, com uma expressão de quem não esperava essa mudança brusca no tema da conversa. Transmitiu em directo – mais uma vez e com toda a naturalidade – aquela genuína alegria que lhe era tão característica e que não tinha nada de postiço ou pouco natural.
Começou por explicar que ela – como todas as pessoas – também tinha os seus momentos de tristeza, de cansaço e até, algumas vezes, de profunda inquietação.
«– No entanto, penso que conheço o remédio para superar tudo isto, ainda que às vezes tenha a sensação de não saber utilizá-lo muito bem.
E o remédio é este: sairmos de nós mesmos, interessarmo-nos de verdade pelos outros, compreendermos que aqueles que estão à nossa volta têm o direito de ver-nos contentes.
Penso que, quando sorrio, comunico algo de felicidade aos outros, mesmo que não esteja especialmente entusiasmada nesse momento. E ao procurar transmiti-la acontece-me que a felicidade cresce no meu interior.
Acredito que, se não estamos sempre centrados na nossa felicidade, e procuramos positivamente a dos outros, encontramos indirectamente uma alegria autêntica. Aquela que procede da generosidade».
Como diz Alfonso Aguiló, o sorriso é algo que cada um de nós tem de aprender a cultivar pacientemente durante toda a sua vida. O sorriso, ao contrário do que muitos pensam, não é uma planta que nasce espontaneamente.
O sorriso tem de ser fomentado, defendido e protegido.
Como?
Com equilíbrio interior.
Aceitando a realidade da vida como ela é. Gostando dos outros como são. Saindo de nós mesmos e esforçando-nos por sorrir – mesmo quando não nos apetece.
O sorriso representa, muitas vezes, uma vitória sobre a tentação do mau humor. E as vitórias exigem luta, esforço e determinação.
Mas, lutar contra quê?
Contra o próprio medo e a natural debilidade. Estas são, muitas vezes, as causas mais profundas da tristeza, do pessimismo e da inquietação.
Tornam as pessoas infelizes e amargas porque – entre outras coisas – asfixiam a sua capacidade de sorrir. São ervas daninhas que têm de ser arrancadas com paciência e constância.
É uma grande sorte ter ao nosso lado caras sorridentes!
Como dizia alguém, o sorriso custa menos do que a electricidade e dá mais luz.
Procuremos ser amáveis. Manifestemos essa amabilidade também com o sorriso, mesmo que algumas vezes isso possa exigir um pouco de esforço. É um esforço que vale a pena!
O sorriso ajuda-nos a sermos mais humanos, modera as nossas tendências agressivas e facilita-nos compreender melhor os outros. São só vantagens!
E o esforço – sejamos sinceros! – não é nada do outro mundo.
Pe. Rodrigo Lynce de Faria
Doutor em Teologia