Uma volta pela Europa
Os dias de pausa nas crónicas desta coluna não significa que estivemos parados. Foram pois dias intensos: trabalhámos, realizámos viagens de prospecção e gozámos bons momentos em família. Passámos pela Praia das Maçãs, de onde no ano passado vos escrevi sobre a festa de Nossa Senhora da Praia. Este ano a solenidade religiosa voltou a reunir milhares de fiéis e curiosos na vila perto de Sintra e Colares, ciosos de ver a Senhora da Praia ir ao mar receber a chuva de pétalas que caía de uma avioneta. Aproveitámos a ocasião para passar alguns momentos – muito agradáveis – com a Rute e o Kowie, amigos de Macau de longa data, especialmente ao final do dia de trabalho enquanto bebíamos um bom vinho na varanda virado ao mar em frente do local da festa.
Seguiu-se uma viagem até à Holanda que serviu, essencialmente, para fazermos uma prospecção de mercado com o objectivo de colocarmos em curso uma nova ideia de “street food” em Portugal. Por agora, preferimos manter segredo quanto a este projecto. Claro está que também na Holanda visitámos amigos. A viagem foi feita em autocaravana e demorámos dois dias e meio a chegar ao destino. Mas como sempre dizemos, não importa o tempo que demoramos nas viagens; o que importa é que as viagens sejam agradáveis. Cumprimos os percursos estipulados, parando quando e onde queremos, ao nosso ritmo. Esta é a nossa filosofia, tanto em mar como em terra.
A viagem em direcção à Holanda levou-nos por toda a Espanha até Irun, no País Basco, onde dormimos na beira da estrada sem qualquer incidente. Seguiu-se Paris e a Bélgica. Em França conduzimos pela auto-estrada, mas na Bélgica o GPS encaminhou-nos para a estrada nacional devido ao trânsito. Deste modo pudemos disfrutar da beleza do País. Ficámos de tal forma impressionados que um dia iremos voltar apenas para visitar a Bélgica com as suas magníficas vilas e cidades. Também aqui pernoitámos na beira da estrada.
No dia seguinte, à hora do pequeno-almoço, estávamos em Lieden, na Holanda, estacionados em frente ao prédio de apartamentos de um casal Holandês-Tailandês que já conhecemos há vários anos. Em Lieden estabelecemos a nossa base.
Para além da cidade universitária de Lieden, visitámos a capital, Amesterdão, que infelizmente não nos impressionou dada a grande confusão de turistas e ao facto das lojas-armadilha venderem sempre do mesmo a preços inflacionados. Até os tão badalados canais deixaram muito a desejar depois de termos visto dezenas nas zonas rurais. Para compensar a decepção, encontrámos um amigo que já não víamos desde o nosso casamento em Banguecoque. De seu nome Diego, este nosso amigo viveu e estudou em Macau no ano 2000, tendo trabalhado em Hong Kong antes de rumar aos Estados Unidos. Nos “States” tirou o “brevet” e trabalha há vários anos como piloto numa companhia de carga do Luxemburgo. Foi bom rever mais um amigo que apesar da distância e dos altos e baixos da vida de cada um nunca deixou de estar presente e de manter contacto connosco.
Terminada a viagem à terra das tulipas, efectuámos o caminho de regresso a Portugal, mas não sem antes passarmos no Luxemburgo para uma visita-surpresa à minha sobrinha que está quase a ser mãe. Deixámos Leiden depois de tomarmos o tradicional pequeno-almoço tailandês, à base de arroz e carnes, na casa dos nossos amigos. Almoçámos na Bélgica para comermos mexilhões, pela última vez, e as afamadas batatas fritas. Ao final do dia estávamos no Luxemburgo – país que não visitava desde o início dos anos 90. Fomos directamente para Esch-sur-Alzete, segunda cidade do pequeno grão-ducado, onde a minha sobrinha reside desde os três anos de idade. Como é habitual nestas paragens, logo começámos a ouvir falar Português. Chegámos por volta das cinco da tarde e às sete estávamos a dar um abraço à família.
À hora do jantar levaram-nos ao maior evento do País, ou seja, à Schueberfour, uma feira que todos os anos tem lugar na capital, a cidade do Luxemburgo (a Vila, como carinhosamente é denominada pelos locais). A edição deste ano decorreu entre 23 de Agosto e 11 de Setembro, no parque de estacionamento do Glacis, em Limpertsberg. Tratou-se da 679ª edição da Feira Schueberfouer, a mais antiga do País, que desde a primeira edição é organizada no mesmo local. Mais uma vez o idioma mais ouvido foi o Português. Não deixou de surpreender o facto de muitos jovens falarem entre si na língua de Camões – um bom presságio para a manutenção da nossa língua nestas paragens.
A influência dos portugueses no Luxemburgo é tão grande que o próprio Governo reconhece-o com regularidade. Aliás, o recentemente falecido grão-duque tinha ascendência portuguesa.
Na Feira Schueberfouer aproveitámos para nos divertir um pouco nos carrosséis e jantámos num restaurante de comida tradicional luxemburguesa. Fomos muito bem servidos embora tenhamos saído do repasto de carteira vazia. É bom recordar que o Luxemburgo é dos países – talvez mesmo o país – com maior poder de compra na Europa. Para finalizar a refeição, pagámos quatro euros por um café Delta e três por um pastel de nata…
Concluída a festa e feitas as despedidas “recolhemos a quartéis” pois no dia seguinte bem cedo tínhamos de cumprir os dois mil quilómetros que nos separavam de Portugal. É que na sexta-feira havia um evento no Entroncamento no qual queríamos estar presentes.
Deixámos o Luxemburgo na terça-feira e na quinta-feira ao almoço já estávamos em casa. Parámos em Espanha para dormir e fazer compras. Há já vários anos que nos abastecemos em Espanha. A carne de Porco Ibérico, por exemplo, é de muito melhor qualidade e custa tanto como a carne de porco normal em Portugal.
João Santos Gomes