Conceito tem o alto patrocínio da Conferência dos Bispos Católicos de Inglaterra e País de Gales

A Arte de Bem Morrer.

The Art of Dying Well (a Arte de Bem Morrer, ou a Arte de Morrer Bem, como o leitor preferir) é um conceito, princípio ou movimento social promovido pela Conferência dos Bispos Católicos de Inglaterra e País de Gales.

Porque consideramos ser mais eficaz darmos um exemplo – ainda que fictício – do que procurarmos explicar ou dissecar este conceito, vamos até ao número 22 da Well Street em Londres.

No papel de narrador, a filha do pai falecido começa por contar: «Dizer adeus ao pai foi das situações mais difíceis que tivemos de enfrentar, mas a sua morte foi ao mesmo tempo das mais serenas e em oração que algumas vez testemunhei».

Uns meses antes, no consultório, o médico dá a notícia menos desejada. O exame revelou um cancro terminal. «Embora não fosse à missa há vários anos, o pai pediu para ver um padre. Sofria! Não era apenas uma dor física; era algo mais profundo», relata. «Chamámos o padre Paul, que logo veio sem questionar a razão. Quando chegou junto ao pai benzeu-o com um óleo e transmitiu-lhe coragem e esperança…».

De facto, a visita do padre Paul foi um bálsamo. «O pai quis aproveitar ao máximo o tempo que lhe restava. Conduzimos até à costa para que pudesse ver o mar pela última vez. Sentámo-nos num banco. Entre outros temas, falou dos seus desejos para o funeral. As músicas e leituras que gostaria que fossem entoadas e lidas. Até brincou, pedindo-nos que não fizéssemos um funeral muito sofisticado. De preferência, algo simples», lembra.

Com o agravar da saúde, chegou a noite por todos temida. «A mãe ligou ao padre Paul para que viesse o mais depressa possível. Acendemos uma vela e colocámos um pano branco na mesa de cabeceira do pai. O padre Paul chegou. A mãe chorava no meu ombro, enquanto a tentava consolar. Deixámos o quarto e fomos para a sala. Foi então que o pai se confessou pela última vez. Quando voltámos ao quarto, encontrámo-lo em paz. Cada um de nós deu-lhe um beijo de despedida. Quando chegou a minha vez, agarrou-me com força na mão e sorriu. Recebeu o viático – o nome dado à última comunhão –, que o padre Paul disse ser “a comida para a última jornada”. Depois, todos rezámos o terço. O pai acompanhava as nossas palavras, movendo os lábios em silêncio com os olhos fechados. Parecia que Deus estava ali no quarto, entre nós», descreve a filha-narradora.

No final, «o padre Paul explicou que havia chegado o momento do pai partir para junto de Deus. Rezou uma oração especial que jamais esquecerei: “Vai no teu caminho deste mundo, ó alma cristã; em nome de Deus Pai que te criou; em nome de Jesus Cristo que por vós sofreu; em nome do Espírito Santo que te fortalece; em comunhão com a Virgem Maria, José e com todos os anjos e santos. Amém”».

O padre Peter Harries OP, líder espiritual no Hospital Universitário de Londres, considera que há três diferentes abordagens dos doentes terminais em relação à arte de bem morrer.

«Há aqueles que simplesmente decidem estar em casa junto da família – com os netos a brincaram no jardim, etc. Estão em casa, estão em paz. Noutros, há um sentimento de reconciliação, que pode ser para com Deus ou para com familiares. E há quem tome este tempo para estar com a família e os amigos, criando-se memórias para as futuras gerações», refere o dominicano em declarações ao site artofdyingwell.org.

A prova que nem todos encaram a morte de forma semelhante está nos diferentes locais escolhidos para a despedida deste mundo: «Há quem prefira estar em casa com a família, mas também há aqueles que querem estar no hospital – pois confiam no pessoal de enfermagem e sentem que há segurança e qualidade nos cuidados de saúde – ou no lar de idosos, onde muitas vezes são tão bem tratados pelos enfermeiros como num hospital, mas num ambiente mais dócil em comparação com a azáfama dos hospitais».

 

OBRIGADO MARGARET DOHERTY

Margaret Doherty é vice-directora do Gabinete de Comunicação da Conferência dos Bispos Católicos de Inglaterra e País de Gales. No dia 19 de Abril deste ano, apresentou em Roma – mais especificamente na Pontifícia Universidade da Santa Cruz – um trabalho sobre a Arte de Bem Morrer que emocionou todos os presentes. O CLARIM esteve lá.

Margaret, que perdeu a mãe em 2017 (se não nos falha a memória), deu o seu testemunho pessoal sobre a importância da família, dos amigos, da Igreja e dos profissionais de saúde para o bem-estar de quem se despede da vida terrena.

Sem nunca criticar directamente ou frontalmente a eutanásia, por respeito a quem por ela opta, a oradora demonstrou como através do amor e da fé se pode concluir o caminho que leva a Deus em harmonia com os ensinamentos e princípios do Catolicismo.

Segundo Margaret, a Arte de Bem Morrer permite ainda que familiares e amigos vivam melhor o período de luto, conscientes de que a morte é a porta que se abre para a vida eterna, aquela que todos os católicos almejam alcançar.

«A doença da minha mãe fez alterar o meu dia-a-dia substancialmente. Estive com ela até ao último momento. Partiu junto de nós e de consciente tranquila juntou-se a Deus», concluiu.

José Miguel Encarnação 

jme888@gmail.com

 com artofdyingwell.org

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