Adventistas do Sétimo Dia – VIII
Os Adventistas do Sétimo Dia são uma igreja cristã com uma espiritualidade messiânica, activa, missionária e orientada para o quotidiano, não apenas na espera do advento salvífico de Cristo. A forte fundamentação bíblica é uma das traves mestras da sua espiritualidade, justificação das suas crenças e semideiro que guia os que esperam pelo Advento.
Na crença em relação à Criação, a base das Escrituras, naturalmente, é forte. Para os Adventistas do Sétimo Dia (ASD), Deus revela nas Escrituras a Sua autêntica e histórica actividade criadora. O Senhor criou o Universo, em seis dias, fazendo “os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há”, tendo descansado no sétimo dia. Desta forma, Deus estabeleceu o sábado, defendem os ASD, como um memorial perpétuo ao trabalho que realizou e completou ao longo de seis dias completos, os quais, juntamente com o sábado, constituíram assim a mesma unidade de tempo que hoje chamamos de semana. Deus fez o primeiro homem e a primeira mulher à Sua imagem, que são a coroa da criação, dando-lhes o domínio sobre o mundo e a responsabilidade de cuidar deste. Quando o mundo ficou completo, era “muito bom”, proclamando-se assim a glória de Deus, crêem os ASD.
Falámos na semana passada na importância da crença trinitária nesta igreja. Neste sentido, a crença na vida, morte e ressurreição de Cristo é um pilar de fé adventista. Através da vida de Cristo, de perfeita obediência à vontade de Deus, e por meio dos seus sofrimentos, morte e ressurreição, Deus deu ao Homem o único meio de expiar o pecado (humano), para que os que pela fé aceitam esta expiação, possam vir a ter uma vida eterna. Por Cristo, acreditam, pode toda a criação assim compreender melhor o amor infinito e santo do Criador. Esta expiação perfeita afirma a justiça da lei de Deus e a Sua bondade. Porque, dizem os ASD, essa justiça não só condena o nosso pecado, mas também, bondosamente, garante o nosso perdão. A morte de Cristo é por isso vicária (uma dádiva, uma outorga de Deus) e também expiatória, mas igualmente reconciliadora e transformadora. A ressurreição corporal de Cristo, deste modo, proclama o triunfo de Deus sobre as forças do mal e garante a vitória final sobre o pecado e a morte, para aqueles que aceitarem a expiação. Jesus Cristo é assim Senhor, diante de quem todos os joelhos no céu e na terra se dobrarão, proclamam os ASD.
A NATUREZA DA HUMANIDADE
Deus fez o homem e a mulher à sua imagem, com individualidade, poder e liberdade para pensar e agir, com capacidades e inteligência. Embora Deus os tenha criado como seres livres, cada um é uma unidade indivisível de corpo, mente e espírito, dependente de Deus para a vida, respiração e para tudo, acreditam os adventistas. Quando os nossos pais ancestrais, Adão e Eva, desobedeceram a Deus, estavam também a negar a sua dependência a Ele, tendo por isso perdido a sua posição e estatuto que Deus lhes conferira. A imagem de Deus neles estava assim desfigurada, acreditam, tendo por isso os seres humanos ficado sujeitos à morte. Tal como os seus descendentes, que participam dessa natureza decaída e das suas consequências. Essa queda do Homem, dizem os ASD, faz com que se nasça com fraquezas, mas pior que tudo, com uma tendência para o mal. Mas Deus, em Cristo, reconciliou consigo o mundo e, por meio do Espírito Santo, restaura nos mortais penitentes a imagem do seu Criador, acalentam com esperança os adventistas. Criados para a glória de Deus, os Homens são chamados a amá-Lo, mas também a amarem-se uns aos outros, para além de deverem cuidar do meio ambiente em seu redor.
Outra importante crença adventista designa-se como o “Grande Conflito”, ou a “Grande Controvérsia”, luta ou dualidade. Os adventistas acreditam que toda a Humanidade ficou envolvida num grande conflito entre Cristo e Satanás acerca do carácter salvífico de Deus, da Sua lei e da Sua soberania sobre o Universo, postas em causa pelo Demónio, a força do Mal. Este conflito originou-se no céu, quando um ser criado, dotado de livre arbítrio, se exaltou e se tornou Satanás, o adversário de Deus, conduzindo uma parte dos anjos à rebelião contra o Criador. Satanás acabou por trazer o espírito de rebelião ao mundo que Deus criou quando guiou Adão e Eva ao pecado. O pecado humano resultou, pois, na distorção da imagem de Deus na Humanidade, na convulsão no mundo criado e, posteriormente, na sua completa devastação por ocasião do grande Dilúvio, tal como surge na narrativa (histórica) do livro do Génesis, de 1 a 11. Sendo o foco da criação, este mundo tornar-se-ia o campo de batalha desse conflito universal, no final do qual, acreditam os ASD, o Deus de amor finalmente triunfará. Para ajudar o Seu povo neste conflito, Cristo envia o Espírito Santo e os anjos, os bons e leais, para guiar os Homens, protegê-los e apoiá-los no caminho da salvação.
Por isso se entende a crença na igreja entre os ASD, na sua igreja, que definem como a comunidade de crentes que confessam que Jesus Cristo é o Senhor e Salvador. Por isso, os que em tal crêem reúnem-se para adorar, comungar, receber instruções na Palavra, celebrar a Ceia do Senhor, servir a toda a Humanidade e proclamar o Evangelho em todo o mundo. A igreja é assim a família de Deus ou, também, o corpo de Cristo.
Os ASD acreditam fortemente na Experiência de Salvação. Que Deus, com infinito amor e misericórdia, fez com que Cristo, que não conheceu o pecado, incarnasse por nós, “como nós”, para que pudéssemos ser corrigidos por Deus através do Filho. Guiados pelo Espírito Santo, sentimos a nossa necessidade, reconhecemos a nossa tendência pecaminosa, arrependemo-nos das nossas transgressões e exercemos a fé em Jesus como Salvador e Senhor, Substituto e Exemplo. Ou seja, temos assim uma experiência da salvação graças a Cristo. Essa fé salvadora chega até nós por meio do poder divino da Palavra e é um dom da graça de Deus, reverberam os ASD. Por meio de Cristo, somos justificados, dizem, adoptados como filhos e filhas de Deus e libertados do domínio do pecado. Por meio do Espírito, nascemos de novo e somos santificados. Os teólogos adventistas afirmam que o Espírito renova as nossas mentes, grava a lei de amor de Deus nos corações dos Homens e capacita-os a viver uma vida santa. Ao permanecerem no Espírito, os humanos tornam-se participantes da natureza divina e têm a certeza da salvação, hoje e sempre, também no Juízo Final. Por isso, há que estarem preparados para o Advento. No fundo, são um conjunto de crenças, que não acabam por aqui, refira-se, que robustecem o Homem na sua espera do advento redentor. Mas é uma espera de desafio, de trabalho e de luta, não passiva….
Vítor Teixeira
Universidade Católica Portuguesa