CAPELA NOSSA SENHORA DA LAPA, EM VIEIRA DO MINHO

CAPELA NOSSA SENHORA DA LAPA, EM VIEIRA DO MINHO

Outra aparição, outra pastorinha

A crónica de hoje é essencialmente redigida com base em documentação enviada por um amigo que recentemente visitou aquela que deve ser a capela mais curiosa de Portugal. Pelo menos, das que conhecemos, pensamos ser a mais “sui generis”. Não a conhecemos pessoalmente, mas esperamos, muito em breve, encontrar um dia livre para visitar com calma a beleza de um templo esculpido na pedra em Vieira do Minho.

O Santuário de Nossa Senhora da Lapa fica na freguesia de Soutelo. Trata-se sobretudo de uma capela, que foi construída numa gruta por baixo de um bloco granítico no monte de Penamourinho. É um dos santuários mais importantes da Europa.

Segundo a lenda por detrás da crença, neste local surgiu a uma pequena pastorinha a imagem de Nossa Senhora da Lapa, por baixo de uma rocha. A notícia rapidamente se espalhou e iniciaram-se as romarias ao local. Hábito que passou a repetir-se todos os anos, no início de Junho, apesar do seu acesso, nessa época, ser muito difícil. No registo feito a uma das primeiras peregrinações contaram-se mais de cinco centenas de pessoas, pelo que o padre Rodrigues Ramos ordenou a construção de um altar no sítio onde agora existe a capela e onde, supostamente, a imagem de Nossa Senhora terá aparecido. Mais tarde, em 1694, com o contínuo crescimento do número de devotos e a necessidade de apetrechar o local com melhores condições, um casal da zona mais abastado decidiu mandar construir a actual capela, aproveitando parte das rochas graníticas, o que deu origem a um conjunto muito simples mas também único em Portugal.

O amigo que nos trouxe estas informações tem por hábito percorrer o País a pé todos os anos; ao deparar-se com este exemplo de arquitectura religiosa único, e sabendo do nosso interesse em publicar artigos relacionados com esta temática, contactou-nos quando ainda estava no local. Durante a conversa telefónica que fomos mantendo a nossa curiosidade foi aguçando e pedimos que nos enviasse fotos e alguma informação que nos permitisse efectuar mais alguma pesquisa, a fim de podermos publicar esta crónica, ainda que em “segunda mão”. Ao partilharmos uma das imagens com familiares nossos – também houve fotos que encontrámos na Internet –, ficou logo decidido que, assim que possível, havemos de rumar a Vieira do Minho. Ali iremos pernoitar e visitar a capela, em especial o miradouro que se encontra no topo do bloco granítico, ao qual se acede por uma escadaria lateral – segundo alguns relatos, em dias com boa visibilidade a vista é espectacular.

O Santuário, dedicado a Nossa Senhora da Lapa, conta também com uma peregrinação anual, à semelhança de outros santuários em Portugal e no mundo, sendo esta realizada no segundo Domingo de Julho. Este ano recai no dia 11 de Julho, sendo esperados milhares de devotos e outros tantos curiosos, assim a pandemia o permita.

Na zona existe ainda um coreto, algumas fontes e outras infraestruturas de apoio aos peregrinos, sendo hoje o acesso ao local muito melhor, embora continue a ser feito por estradas apertadas e muito íngremes, o que acaba por dificultar a deslocação de mais pessoas.

Como planeamos levar a nossa autocaravana, pensamos não ser de todo aconselhável fazer coincidir a nossa estadia com a peregrinação anual; uma ocasião que deve ser muito interessante de presenciar, mas não convém arriscarmos.

De acordo com o nosso amigo, na porta da entrada está inscrito o ano 1898, para além de outras inscrições gravadas no tecto e de um quadro encaixilhado com a história do santuário, escrita pela padre José Maria Machado, em 1851. Informações que seguramente serão de grande importância para entender melhor a história do local e a importância da peregrinação anual.

No relato do padre José Maria Machado pode ler-se que, no ano de 1605, Nossa Senhora da Lapa surgiu diante de uma pequena pastorinha que contou o sucedido aos pais assim que chegou a casa. Sabendo do ocorrido, o pai da criança deslocou-se ao local a fim de constatar o acontecimento; quando a filha apontou para o local da aparição, Nossa Senhora ainda lá estava. A boa nova rapidamente se alastrou às localidades vizinhas. Daí até começarem as romarias foi um pequeno passo.

O templo encontra-se numa cavidade sob rochas, a “lapa”, encerrada com parede de cantaria granítica; forma uma fachada de desenho arquitectónico simples, onde se distinguem os vãos moldurados das janelas e da porta, sendo esta sobrepujada por um nicho onde se abriga uma pequena imagem de Nossa Senhora, com uma cartela na base onde se gravou o ano de 1694.

Quanto à designação “Lapa”, muito haveria para dizer. O culto das lapas (pedras) é pois bastante recorrente em Portugal. Basta relembrar as crenças das Pedras Parideiras, da Pedra do Galo ou todas as antas, dólmens e menires que povoam a nossa cultura de Norte a Sul.

Muitas foram cristianizadas e a Capela Nossa Senhora da Lapa, em Vieira do Minho, é apenas mais um exemplo. Uma pedra que por ser tão admirada e respeitada a Igreja decidiu não apagar da memória-pagã do povo. Daí o nome Senhora da Lapa que não será mais do que a junção da palavra senhora à comunhão de uma antiga deidade pétrea. Mas que pela sua originalidade e pela tradição a si ligada merece ser mais conhecida e divulgada.

João Santos Gomes

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