BISPOS INSISTEM EM DESAFIAR A DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA

BISPOS INSISTEM EM DESAFIAR A DOUTRINA DA IGREJA CATÓLICA

Tempos difíceis na Alemanha

Os jornalistas fizeram a conta: até há poucos dias, o Papa fez exactamente cem (100) intervenções a pedir a paz para a Ucrânia e a condenar a invasão. O centésimo apelo recordou o “holodomor”, que matou propositadamente à fome milhões de ucranianos, no tempo de Estaline. Os actuais russos, depois de arrasarem cidades inteiras, de matarem centenas de milhares de pessoas e de provocarem a fuga de muitos milhões de ucranianos, descobriram nas últimas semanas que sem electricidade não há abastecimento de água canalizada e estão a destruir uma a uma as centrais e a cortar as linhas eléctricas, para matar os ucranianos à sede. Esta guerra alimenta-se de uma religiosidade tóxica, que invoca Deus como bandeira de conquista e de morte.

Por outras razões, a Igreja Católica na Alemanha está a atravessar um momento difícil. Os bispos alemães queixam-se do êxodo maciço dos fiéis e muitos bispos confiaram no remédio que uns especialistas lhes sugeriram. Infelizmente, o remédio agravou o problema, dividiu a Conferência Episcopal alemã e suscitou a reacção da Santa Sé.

O Papa tinha-lhes escrito pessoalmente uma carta em 2019, mas foi ignorada. A reunião que agora tiveram com o Santo Padre foi tensa, a julgar pelas declarações do Presidente da Conferência Episcopal aos jornalistas. No encontro do passado dia 18 de Novembro, com os responsáveis da Santa Sé, as tensões emergiram claramente, a ponto de as intervenções críticas dos cardeais D. Ladaria e D. Ouellet terem sido publicadas na página da Internet do Vaticano em Alemão.

O cardeal D. Luis Ladaria (Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé) foi diplomático, sem ambiguidade. Sublinhou muito a unidade da Igreja e concordou que tinha havido uma perda de credibilidade dos bispos alemães, por causa dos casos de abuso sexual. Depois, fez cinco objecções ao documento apresentado.

Primeiro, o texto está pouco estruturado, é confuso e não serve como base para um documento final. Em segundo lugar, os abusos sexuais não são argumento para alterar a estrutura da Igreja. A terceira crítica é que o documento se afasta completamente da visão católica da sexualidade, ensinada por exemplo no Catecismo da Igreja Católica. A quarta objecção reside em não aceitar a verdade de que “a Igreja não tem autoridade para ordenar mulheres”, declarada por João Paulo II. O quinto reparo refere-se ao exercício do magistério episcopal, porque, como o Concílio Vaticano II lembrou, Jesus Cristo fundou a Igreja como uma comunidade estruturada, baseada numa cabeça, que é Pedro, com todo o colégio episcopal.

A intervenção do cardeal D. Marc Ouellet (Prefeito do Dicastério para os Bispos) foi mais dura. Falou de cisma latente, embora ressalvando que não seria essa a intenção dos bispos alemães. Contudo, afirmou: «É chocante que a agenda de um pequeno grupo de teólogos, de há algumas décadas atrás, tenha surgido, de repente, como a proposta fundamental do episcopado alemão: a abolição do celibato obrigatório, a ordenação dos “viri provati”, o acesso de mulheres ao ministério ordenado, a reavaliação moral da homossexualidade, a limitação estrutural e funcional do poder hierárquico, uma visão da sexualidade inspirada na ideologia do género, mudanças radicais do Catecismo da Igreja Católica, etc.».

Segundo D. Ouellet, estas propostas semeiam a confusão e abrem caminho para o cisma: «Fica-se com a impressão de que o assunto muito sério dos casos de abuso foi aproveitado para promover ideias que não têm relação nenhuma com eles». Segundo o cardeal, os bispos de todo o mundo «reagiram com assombro e preocupação [às propostas]:(…)porque a primeira missão do bispo é pregar em conformidade com o Magistério da Igreja e do Papa (cf. Vaticano II, “Lumen gentium”, 25)». O terem ignorado os apelos do Papa Francisco na sua carta de Junho de 2019 «teve consequências significativas». «O distanciamento do Magistério (…)levou a posições que contradizem o ensinamento de todos os Papas (…). A rejeição da declaração de João Paulo II acerca da impossibilidade de a Igreja Católica ordenar mulheres é espantosa». «Há um problema de falta de fé no Magistério e um racionalismo descontrolado (…)que põem em causa este trabalho sinodal, que parece fortemente influenciado por grupos de interesse (…)e muitos consideram como uma iniciativa decepcionante, destinada a falhar, por ter saltado dos carris».

Como sempre, a solução para tempos difíceis é rezar ao Deus da verdade, da justiça e da paz.

José Maria C.S. André 

Professor do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *