Diálogo inter-religioso é o caminho
A beatificação de dezanove mártires na Argélia, que decorreu na catedral de Orã, foi acompanhada pelo sacerdote português José Manuel Pereira de Almeida, para quem esta cerimónia foi um sinal de que «o acolhimento das diferenças e a construção de uma humanidade comum» é possível.
«O diálogo é o caminho e não pode ser outro em qualquer sítio. O Papa Paulo VI no abraço ao patriarca Atenágoras tem o ícone desse diálogo, assim como o Concílio Vaticano II. Também o Papa Francisco tem mostrado que ouvir o outro é o caminho, não porque eu tenho razão ou o vá convencer mas porque a minha compreensão do mundo fica mais rica por o outro ser diferente de mim», disse na passada segunda-feira à ECCLESIA.
O também vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa esteve em Orã, em representação da União dos Irmãos e Irmãs de Jesus, criada por Carlos de Foucauld e Louis Massignon – na impossibilidade de Jean-François Six, coordenador da “União” estar presente –, e falou numa celebração «cheia de simplicidade» e «muito tocante».
«O diálogo tem início quando se começa por ouvir. Isso foi claríssimo nesta celebração: o acolhimento das diferenças e a construção de uma humanidade comum. Foi muito tocante», observou.
O cardeal D. Giovanni Angelo Becciu, enviado especial do Papa, presidiu à celebração local da beatificação do antigo bispo da cidade argelina de Orã, D. Pierre Claverie, e de dezoito religiosos e religiosas assassinados durante a guerra civil, entre 1991 e 2002, incluindo sete monges trapistas de Tibhirine, mortos em 1996.
A história dos monges da Ordem Cisterciense da Estrita Observância – Christian de Chergé, Luc Docher, Christophe Lebreton, Michel Fleury, Bruno Lemarchand, Celestin Ringeard e Paul Favre-Miville –, raptados e assassinados em Tibhirine, deu origem ao filme “Dos homens e dos deuses”, do realizador francês Xavier Beauvois.
Entre os beatos estão ainda duas agostinianas espanholas, as irmãs Caridade Álvarez e Esther Paniagua, assassinadas durante as revoltas de 1994.
D.Pierre Claverie foi assassinado por uma bomba e ao seu lado permaneceu o seu jovem motorista argelino Mohamed Bouchikh.
«Este jovem não foi beatificado, claro, porque não era baptizado, mas era crente no mesmo Deus de misericórdia, e isso foi muito sublinhado; a sua mãe estava também presente na primeira fila, junto da irmã do D. Pierre Claverie», indicou o sacerdote português.
In ECCLESIA