75 ANOS, 75 PONTOS DO CAMINHO

75 ANOS, 75 PONTOS DO CAMINHO

Sê útil, deixa rasto…

A partir desta semana e durante os próximos meses, O CLARIM vai publicar artigos redigidos no âmbito das celebrações dos 75 anos do estabelecimento do Opus Dei em Portugal. A efeméride começou a ser celebrada no passado dia 5 de Fevereiro, tendo o vigário regional da “Obra de Deus” em Portugal, monsenhor José Rafael Espírito Santo, rezado o Terço na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, no Santuário de Fátima.

No início do ano de 1945, a Irmã Lúcia encontrou-se com São Josemaría em Tuy e convenceu-o a vir a Fátima. Assim aconteceu no dia 5 de Fevereiro, já de noite. Um ano depois, chegou a Portugal o farmacêutico Francisco Martínez e dava-se início ao trabalho apostólico do Opus Dei em Portugal, esta terra abençoada, «terra de Santa Maria, onde Ela quis deixar rasto do seu amor pelos homens», como referiu São Josemaría aquando de uma romaria a Fátima em 1970.

Decorridos estes anos, e sob o olhar de diferentes pessoas, queremos perceber um pouco o impacto que a mensagem deste sacerdote Santo teve na vida concreta de quem se aproximou da Obra e que, com humildade e graça, foi procurando aplicar à sua vida os seus ensinamentos e o espírito que Deus confiou a São Josemaría no dia 2 de Outubro de 1928.

“Meus filhos, onde estiverem os homens, vossos irmãos; onde estiverem as vossas aspirações, o vosso trabalho, os vossos amores, é aí que está o sítio do vosso encontro quotidiano com Cristo” (homilia pronunciada no campus da Universidade de Navarra, em 8 de Outubro de 1967, in “Entrevistas a São Josemaría”).

O eco desta mensagem na vida pessoal de cada um apresenta-se com tonalidades muito variadas e insuspeitadas, que procuraremos descobrir ao longo de vários artigos sob o mote “75 anos, 75 pontos do Caminho”.

Vocação, vida contemplativa no meio do mundo, ordem, trabalho, alegrias e tristezas, crescer para dentro numa vida oculta e simples feita de coisas pequenas que se tornam grandes pelo amor com que se fazem. Tudo isto e muito mais iremos certamente encontrar.

O nosso desejo: dar graças pelo trabalho e entrega de tantas mulheres e tantos homens ao longo destes 75 anos.

Na sua exortação apostólica “A Alegria do Evangelho”, o Papa Francisco desafia-nos: Uma fé autêntica – que nunca é cómoda nem individualista – comporta sempre um profundo desejo de mudar o mundo, transmitir valores, deixar a terra um pouco melhor depois da nossa passagem por ela (nº 183).

Penso que é a isso que São Josemaría sempre nos desafia com o Ponto nº 1 de “Caminho”: Que a tua vida não seja uma vida estéril. Sê útil. Deixa rasto. Ilumina, com o esplendor da tua fé e do teu amor.

O MEU TESTEMUNHO

Habitualmente, quando vem a propósito o dia de aniversário de casamento e digo que casei a 14 de Fevereiro, ouço: “ah, que bonito, no dia dos namorados…”.

Sim, é verdade que a data coincide com essa comemoração romântica de um dia dedicado a celebrar o amor, mas, na verdade, a escolha há dezassete anos deste dia para nos unirmos em matrimónio teve uma outra razão, que não exclui a primeira, mas que a acrescenta ou aprofunda…

Conheci a Obra (prelatura do Opus Dei) quando era uma recém universitária. Uma amiga e depois outra (colega do mesmo curso de Economia) levaram-me a conhecer uma residência universitária. A casa, agradável e “arejada”, sempre com gente jovem a circular, tinha as condições próprias para encontrar novas amizades e para conseguir estudar com empenho (tarefa mais fácil, pelo menos para mim, quando se está com outros que estão “na mesma onda”). Apesar de já estar habituada a ter um horário “apertado” para conciliar estudos do ensino regular com os estudos do ensino artístico e demais obrigações familiares, aí aprendi a importância de ter um horário definido para encaixar cada coisa no seu lugar. E fiz muitas e boas amizades.

Num dia, uma dessas amigas que lá vivia disse-me com muita naturalidade, no “hall” junto a um oratório que a residência tinha: «sabes que podes ser santa!?». Perante a minha incredulidade (também face à “novidade” e à dimensão do desafio), explicou-me muito brevemente a ideia e entregou-me o “Caminho” para as mãos e sugeriu-me que começasse a fazer oração, uns minutos por dia. Essa foi, sem dúvida, a melhor e mais maravilhosa descoberta do todo que já vivia ali: aprender e experimentar pessoalmente que podia conversar com Deus, ali presente no sacrário do oratório, num diálogo silencioso, mas real. Era isso que andava à procura desde que por volta dos catorze/quinze anos decidira que queria aprofundar na vivência da Fé cristã.

O caminho faz-se caminhando e foi-se colocando naturalmente a questão vocacional. “Senhor, que queres de mim?”. Fui rezando, falando e o caminho foi-se tornando pouco a pouco mais claro, unindo num todo as peças da minha vida, o porquê de tantas especificidades…

“Ris-te porque te digo que tens ‘vocação matrimonial’? – Pois é verdade: assim mesmo, vocação” (Caminho, nº 27).

Sim, descobri que esse era também o meu caminho: o matrimónio. Aí me chamava Deus, para viver nessa entrega a um alguém concreto, a entrega que desejava fazer de toda a minha vida (com o que quer que ela comportasse) a Deus.

E foi assim que surgiu o 14 de Fevereiro, aniversário do início do trabalho apostólico do Opus Dei com mulheres. De facto, foi graças a esse trabalho que também eu havia descoberto a minha vocação e por isso fez-me todo o sentido escolher esta data especial para me lembrar, cada ano, que Deus pensou em mim com este projecto maravilhoso e desafiante que é o matrimónio. Oxalá outros o descubram….

Cristina Berrucho Figueiredo

Professora

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