500 anos da chegada dos portugueses a Timor

Da Grande Guerra à Independência

Com a entrada dos japoneses na Segunda Guerra Mundial (1941) as tropas australianas e holandesas desembarcaram em Díli alegando uma ameaça iminente para a Austrália, apesar dos protestos do Governo português. Foi o pretexto para os japoneses invadirem Timor e ai permanecerem desde Fevereiro de 1942 até Setembro de 1945, com consequências catastróficas para a população local. Os régulos Dom Aleixo Corte-Real e Dom Jeremias de Lucas, dois dos mais ilustres timorenses, pagaram com a vida a sua fidelidade a Portugal. Fala-se de um liurau que enfrentou o pelotão de fuzilamento envolvido na bandeira nacional.

Durante a ocupação japonesa, o governador Manuel de Abreu Ferreira Carvalho ficou confinado no palácio de Lahane, incapaz de comunicar com o Governo da República através de Macau, porque os japoneses tinham sob seu controlo a estação de rádio. Os restantes europeus seriam internados num campo de concentração em Liquiçá.

Com o fim da guerra e da rendição japonesa, a população timorense substituiu espontaneamente a Administração Portuguesa, cuja histórica tradição com quatro séculos de existência funcionava, acima de tudo, como um elemento aglutinador de muitos timorenses. Talvez por isso, a actividade dos movimentos independentistas locais surgiu apenas após o golpe militar em Portugal, a 25 de Abril de 1974. Partidos e organizações políticas desde logo marcaram posições no palco da política timorense. Em Janeiro de 1975, a FRETILIN e a UDT constituíram uma coligação com vista à transição de poder, tentando evitar assim uma mais do que previsível anexação pela Indonésia. A UDT, eventualmente, acabaria por deixar a coligação. Por sua vez, a FRETILIN recusou-se a participar numa conferência em Macau, onde iria ser discutido o futuro do território, e começou a recrutar milícias e a concentrar tropas junto à fronteira.

Lisboa, no entanto, tinha já planeado a descolonização de Timor e a criação de um Governo de transição até Outubro de 1978, presidido por um Alto Comissário e com a participação das diferentes facções políticas timorenses.

Nas eleições de Verão 1975, a FRETILIN obteve 55 por cento dos votos. Incapaz de aceitar os resultados, a UDT desencadeou uma ofensiva que conduziu à guerra civil no território. Perante a situação, o governador português retirou-se para Ataúro, deixando Timor desprovido de qualquer autoridade.

Em pleno clima de guerra civil a FRETILIN declarou unilateralmente a independência da República Democrática de Timor-Leste (RDTL), pelo que o ministro indonésio dos Negócios Estrangeiros, com o apoio dos Estados Unidos e a anuência de vários elementos dos outros partidos timorenses – UDT, APODETI, KOTA e Partido Trabalhista – assinou uma declaração apelando à integração de Timor-Leste na Indonésia, acabando por ordenar a invasão do território a 7 de Dezembro do mesmo ano.

Um Governo provisório, com elementos da UDT e da APODETI, é estabelecido em Janeiro de 1976, e em Maio desse mesmo ano, Timor-Leste passa a ser considerado a 27ª província (Timor Timur) indonésia.

Portugal, na realidade, a verdadeira potência administrante, cortou as relações diplomáticas com Jacarta e levou o caso às Nações Unidas, que acabaria por condenar a intervenção da Indonésia.

A população timorense reagiu mal a todo este processo, iniciando desde logo, as FALINTIL (Forças Armadas de Libertação de Timor-Leste), um movimento de resistência nas montanhas e florestas. Nos anos que se seguiram, Portugal e a resistência maubere buscaram apoio para a causa timorense, mas sem grande sucesso.

O martirizado país só mereceu a atenção da comunidade internacional após o massacre do cemitério da Santa Cruz, em Novembro de 1991, e a atribuição do Nobel da Paz a José Ramos Horta e ao bispo D. Ximenes Belo, em 1996.

O fim do regime de Suharto e a pressão internacional seriam fundamentais para a retirada das forças de ocupação. Todo o processo esteve longe de ser pacífico. Após o referendo de 1999, marcado por um banho de sangue, Timor-Leste tornou-se, finalmente, num país independente.

Macau foi durante todos esses difíceis anos abrigo para centenas de refugiados timorenses, que no território prepararam o seu caminho para a Austrália, Portugal ou para outros destinos. Muitos deles fixariam residência na cidade, contribuindo para o seu cosmopolitismo e multi-etnicidade.

Joaquim Magalhães de Castro

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