1º DOMINGO DA QUARESMA – Ano A – 26 de Fevereiro

1º DOMINGO DA QUARESMA – Ano A – 26 de Fevereiro

Quaresma: um tempo para proteger a nossa vida de fé contra terramotos

No momento em que escrevo este artigo, o número de mortos do terramoto na Turquia e na Síria já ultrapassou os 42 mil. A escala de morte e destruição é terrível.

A natureza pode ser muito cruel, de facto. No entanto, o “factor humano” também é uma das causas de um número tão elevado de vítimas. Na verdade, embora a Turquia tenha regulamentos de construção que atendem aos padrões actuais de engenharia sísmica, raramente são aplicados. Quando o terramoto ocorreu, os prédios facilmente desmoronaram e desabaram. Somando-se ao desastre, a Síria está no meio de uma guerra civil de doze anos que exacerbou as dificuldades em levar ajuda de emergência para as áreas afectadas.

Os desastres naturais são muitas vezes inevitáveis, mas é o nosso despreparo culposo que piora as coisas. O mesmo pode ser dito sobre a nossa vida espiritual. As tentações são como os terramotos. Abalam a solidez das nossas crenças e minam as nossas convicções interiores. Ampliam as falhas que racham as áreas mais fracas da nossa alma. Se não estivermos preparados, podem reduzir a nossa alma a escombros.

Os terramotos acontecem porque as placas tectónicas da Terra, que estão em constante fricção, suportam gigantescas cargas de tensão por longos períodos de tempo, até ao momento em que “estilhaçam”, libertando violentamente uma enorme quantidade de energia. As tentações também criam tensões doentias no interior das nossas almas, levando-nos a fazer escolhas erradas e devastadoras.

Na Primeira Leitura deste Primeiro Domingo da Quaresma, a serpente diz a Adão e a Eva palavras destinadas a minar a solidez da sua confiança no Criador. A serpente tentadora fez com o que o primeiro casal duvidasse da bondade de Deus, criando assim tensão e inquietação nos seus corações: «“Com toda a certeza não morrereis! Ora, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e vós, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal!”» (Génesis, 3, 4). Ainda hoje pagamos pelas consequências do “estoiro” que se seguiu: o pecado original.

Quando Jesus iniciou o seu ministério público, o diabo tentou empregar a mesma estratégia: criar dúvidas e tensões no coração de Jesus para que ele tentasse cumprir a sua missão, não de acordo com o plano do Pai, mas apenas por meios mundanos (cf. Mateus 4, 1-11). O instinto de priorizarmos as nossas necessidades e apetites corporais, o desejo de sermos aplaudidos e a necessidade de controlarmos os outros por meio do poder, são as principais falhas que correm profundamente dentro das nossas almas humanas. Não é de admirar que o diabo ataque precisamente por aqui.

Ao contrário de Adão e de Eva, quando veio o terramoto da tentação, Jesus já estava preparado. Os quarenta dias de jejum e oração deram-lhe uma visão espiritual do plano de Deus e da Sua própria missão. Numa das suas recentes catequeses, o Papa Francisco abordou o tema do discernimento. Na ocasião, afirmou: «Jesus afasta as tentações com uma atitude de firme determinação (cf. Mt., 3, 14-15; 4, 1-11; 16, 21-23). As situações de provação advêm-lhe de várias partes, mas sempre, encontrando n’Ele esta firmeza decidida a cumprir a vontade do Pai, esmorecem e deixam de impedir o caminho. Na vida espiritual, a provação é um momento importante, como a Bíblia recorda explicitamente, diz assim: “Se quiseres servir a Deus, prepara a tua alma para a provação” (Eclesiástico, 2, 1). Se quiseres ir pelo bom caminho, prepara-te: há obstáculos, tentações, momentos de tristeza. É como quando um professor examina o estudante: quando vê que conhece os pontos essenciais da matéria, não insiste: passou a prova! Mas deve superar a prova» (26 de Outubro de 2022).

O momento, a magnitude e a localização de cada terramoto são impossíveis de prever. O que podemos fazer é insistir para que toda a construção siga padrões rígidos e saber o que fazer se o chão começar a tremer. O mesmo pode ser dito sobre a nossa vida espiritual. Não sabemos como e quando uma tentação pode surgir de repente, mas se a nossa vida espiritual for construída sobre bases sólidas (não muito rígidas, pois a elasticidade também é importante!), então poderemos resistir-lhe, como Jesus fez. Ao entender de que forma a tentação influencia a nossa vida, podemos obter um melhor conhecimento sobre as fraquezas e a força da nossa fé. Quanto mais praticamos o discernimento, mais sabemos como resistir à tentação ou como recuperarmos rapidamente das nossas quedas.

No início da Quaresma deste ano, que as imagens do rescaldo do terramoto que continuam a circular nos Meios de Comunicação Social nos estimulem a uma solidariedade concreta com as vítimas, mas também a reflectir sobre o estado da nossa “preparação espiritual”, para enfrentar as provações e tentações que nossa fé deve suportar se quiser crescer. E, como escreveu São Paulo, lembrem-se de que «Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além do que podeis resistir. Pelo contrário, juntamente com a tentação, proverá um livramento para que a possais suportar» (1 Coríntios 10, 13).

Pe. Paolo Consonni, MCCJ

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