Protector contra as pestes e epidemias
São Sebastião (em Latim: Sebastianus) foi um mártir cristão, sendo um santo da Igreja Católica. Nasceu em Narbona (Narbo, Gallia Narbonensis), no Sul da Gália (corresponde sensivelmente à actual França), então Império Romano, cerca de 255, e foi martirizado em Roma, em Itália, cerca de 288.
A sua biografia permanece nebulosa, existindo apenas a certeza do seu martírio. Na “Depositio Martyrium” do “Cronógrafo de 354” (“Chronographus Anni CCCLIV”, calendário ilustrado do calígrafo Fúrio Dionísio Filócalo) surge a menção que Sebastião foi sepultado na Via Ápia.
Santo Ambrósio de Milão, no “In Psalmum CXVIII”, afirma que Sebastião provinha de Milão, onde era venerado. Sebastião terá sido soldado do Exército Romano, às ordens do Imperador Diocleciano (imperador entre 284 e 305), que sem saber que Sebastião era um convertido ao Cristianismo chegou a nomeá-lo comandante da primeira corte da guarda pretoriana imperial, os soldados mais próximos e mais fiéis ao soberano. Entrou no exército em Milão, em 283, sendo já provavelmente cristão.
Todavia, segundo a crítica histórica, esta tradição assenta em factos provavelmente escritos no início do Século V e posteriormente atribuídos erroneamente a Santo Ambrósio. Narra-se ainda que Sebastião, enquanto oficial da guarda imperial, praticara secretamente muitos actos de caridade e amor a favor dos seus irmãos na fé.
Sebastião terá ocultado sempre, prudentemente, a sua fé, mas em 286 foi descoberto. Conta-se que cumpriu a disciplina militar, embora não participando nos sacrifícios pagãos, que considerava como idolatria. Como cristão que era, exerceu o apostolado possível entre os seus companheiros, visitando e encorajando outros cristãos presos por causa da religião. Como já afirmámos, acabou por ser descoberto, tendo sido denunciado pelo prefeito militar Fabião ao Imperador Maximiano (co-regente do Império com Diocleciano), que o obrigou a escolher entre a condição militar e a fé religiosa. Sebastião escolheu a sua fé. Diocleciano, entretanto, tomou o assunto em mãos e repreendeu o jovem militar cristão pela sua suposta traição e, perante a sua opção de fé, ordenou que fosse conduzido a um campo e ali amarrado a uma estaca para que os arqueiros, escolhidos entre soldados da Mauritânia, disparassem flechas contra ele. Fustigado pelas flechas, abandonaram o seu corpo, deixando-o para morrer. Milagrosamente, as flechas não o mataram. A viúva de Castulus (Cástulo), (Santa) Irene de Roma, cristã, foi então buscar o corpo para o enterrar, mas descobriu que ainda estava vivo. Irene trouxe-o então de volta para a sua casa e cuidou de Sebastião até recuperar. O relato completo do seu martírio surge num texto ltino do Século V, a “Passio Sancti Sebastiani” (“Paixão de São Sebastião”), escrito por um autor anónimo, possivelmente Arnóbio, o Jovem. Este relato inclui os “dois martírios”, bem como os cuidados de Irene entre ambos os incidentes, além de outros detalhes que permaneceram como parte da história.
Foi aconselhado pelos amigos a afastar-se de Roma, mas recusou. Um dia, Sebastião parou numa escada por onde o Imperador e o seu séquito deveriam passar. Ali, acusou e repreendeu Diocleciano pelas suas crueldades contra os cristãos. O Imperador ficou surpreso com tamanha liberdade de expressão, além do facto de, incrivelmente, Sebastião estar vivo. Recuperado da surpresa, Diocleciano deu ordens para que Sebastião fosse agarrado e espancado até à morte com maças, devendo o seu corpo ser depois atirado para o esgoto. Estávamos no ano de 288. Eis que surgiu então outra devota cristã, uma santa senhora, chamada Lucina, que teria sido avisada pelo mártir numa visão, a recolher o cadáver de Sebastião e a sepultá-lo cristãmente nas catacumbas à entrada do cemitério de Calisto, onde hoje se ergue, precisamente, a Basílica de São Sebastião, nas aforas antigas de Roma.
No ano de 367 foi construída uma basílica sobre o seu túmulo. É uma das sete principais igrejas de Roma. A igreja como se encontra hoje foi concluída em 1611 pelo cardeal Scipione Borghese. Antes, parte das relíquias do santo foram levadas no ano de 826 para Saint Medard, em Soissons (França). São Sebastião ganhou então importância como protector contra as pestes e epidemias, devido a intervenções contra maleitas dessas em Roma, no ano de 680; em Milão, em 1575; e em Lisboa, em 1599.
A referência visual mais antiga de São Sebastião é um mosaico datado de 682, mostrando um homem adulto, com barbas e em trajes da corte, mas sem vestígios de flechas. Foi a arte do Renascimento que o viria a representar pela primeira vez como um jovem trespassado por flechas, uma iconografia que se tornará corrente. A sua Festa é celebrada a 20 de Janeiro, sendo venerado tanto na Igreja Católica como na Igreja Ortodoxa.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa