Páscoa é Ressurreição, Renascimento, Procura e Encontro com Cristo
Que significado tem, afinal, a mensagem pascal para os católicos de Macau? Procurou O CLARIMperceber junto de fiéis de várias origens. Introspecção, reflexão e auto-análise são perspectivas comuns, mas o essencial é lembrar que Jesus Cristo deu a vida pela salvação da Humanidade.
É, para Luís Leong, muito mais do que uma questão de fé. Funcionário da Universidade de Macau, Leong já subiu as encostas da Colina da Guia com a cruz às costas, integrou a comissão organizadora da tradicional Via-Sacra organizada pela Associação de Leigos Católicos de Macau e esta manhã vai voltar a trilhar os Passos da Paixão de Cristo, no que se prefigura como uma oportunidade para encarnar, ainda que de forma simbólica, o sofrimento do Filho de Deus.
Paroquiano na igreja de São Francisco Xavier, em Coloane, Leong não falha nenhuma das celebrações da Semana Santa, mas a Via-Sacra que todos os anos sobe a Guia – o ano de 2020 foi mesmo a única excepção – é um momento de presença e de partilha obrigatória. «Esta iniciativa é organizada de há muitos anos a esta parte na Sexta-feira Santa. Eu faço parte da Associação de Leigos Católicos de Macau e fui convidado para ajudar a transportar os instrumentos litúrgicos. Este ano não vou ajudar a transportar a cruz, mas faço questão de lá estar», disse, em declarações a’O CLARIM. «Esta iniciativa foi suspensa e transformada numa iniciativa com transmissão em directo na Internet, mas em 2021 e em 2022 voltou a ser organizada, exactamente da mesma forma que foi organizada no passado».
A Via-Sacra é, de resto, o único momento da caminhada de preparação para a Páscoa que Leong não vive na sua paróquia de residência. No Domingo, o mesmo assistiu às celebrações de Domingo de Ramos na mais periférica das paróquias de Macau, agora administrada pelos Missionários do Caminho Neocatecumental. «Sou membro do Coro da Igreja de São Francisco Xavier em Coloane e vou dar o meu humilde contributo durante todas as cerimónias e rituais da Semana Santa. É um momento particularmente importante para todo o mundo, para que possamos rezar pela paz na Ucrânia e no estreito de Taiwan», defendeu.
Para Carmelita Pedro, o período da Quaresma, primeiro, e a Semana Santa, depois, são propícios à introspecção, à reflexão e à redenção pessoal. A caminhada para a Páscoa e para a transformação pessoal arranca, no seu íntimo, na Quarta-feira de Cinzas e culmina com o anúncio da Ressurreição, na Vigília Pascal. «Desde o começo da Quaresma, a 22 de Fevereiro, comecei a acompanhar retiros quaresmais nos canais de evangelização. Procurei orar e meditar sobre a Paixão de Jesus Cristo. O mais importante nesta época quaresmal é aprendermos a fazer um bom exame de consciência para podermos receber mais puramente a Ressurreição de Jesus Cristo», acentuou Carmelita Pedro. «Costumo participar em todas as celebrações da Semana Santa, começando logo pelo Domingo de Ramos. Na quinta-feira assisto sempre à cerimónia do Lava-Pés e na Sexta-feira Santa faço questão de fazer jejum e de participar na Procissão da Morte e Paixão de Cristo. Mas o dia mais importante, no meu entender, é o Sábado Santo, quando celebramos a Ressurreição de Cristo. Como católicos devemos participar nestas celebrações da Páscoa. Devemos esclarecer os nossos filhos sobre o sacrifício que Jesus Cristo fez em prol da salvação da Humanidade», referiu.
UM CONVITE À REFLEXÃO
A exemplo do que sucede com Carmelita Pedro, Anabela Ritchie acompanha, a par e passo, as cerimónias da Semana Santa na igreja da Sé Catedral. Para a antiga presidente da Assembleia Legislativa de Macau, a Semana Santa é o momento central de todo o Ano Litúrgico, mas mais importante do que testemunhar a fé, o essencial é interiorizá-la. «A Páscoa é um tempo litúrgico particularmente importante. Passo este tempo, sobretudo a Semana Santa, em recolhimento, silêncio e oração. É um templo de reflexão, de auto-análise e de exame de consciência», considera. «Participo nas celebrações da Semana Santa, revivo o simbolismo e o significado dos Passos do Senhor, de onde retiro grandes lições para recordar e reflectir. Todos os sinais da Quinta-feira Santa são importantes. A Sexta-feira Santa – a Via-Sacra, a Adoração da Cruz e a Procissão do Senhor Morto – comove-me e inspira-me sobremaneira, enquanto caminhamos para a Ressurreição», acrescentou Anabela Ritchie.
Para ela, nenhuma data ou mensagem cristã é tão poderosa quanto a mensagem pascal. Recordar a Morte e Ressurreição de Jesus é, defende Anabela Ritchie, recordar uma força revolucionária, sempre activa, actual e profunda: «A Mensagem da Páscoa continua e continuará actual: Páscoa é ressurreição, Páscoa é renascimento, procura e encontro. É alegria e esperança, que nos saram as feridas e nos ajudam a continuar o caminho, em comunhão com o Eterno e os Outros».
Para António Bessa Almeida, «revolucionário» talvez não seja o adjectivo que melhor qualifica a amplitude de mensagem pascal. Antigo funcionário das forças policiais portuguesas, agora aposentado, Bessa Almeida revelou que não vive o período da Semana Santa e o Tríduo Pascal com a devoção de outrora, mas reconhece que a mensagem de Cristo se mantém actual e universal, num mundo onde o sofrimento não dá tréguas. «É um período muito importante para todos os católicos. É sempre uma boa oportunidade para recordar e reflectir sobre o processo de sofrimento a que Jesus Cristo se submeteu. Eu acompanho o que me é possível e desloco-me à igreja nos principais momentos de celebração, mas a impressão que tenho é que antigamente éramos mais rigorosos, sobretudo entre a Sexta-feira Santa e o Domingo», disse. «Para mim, o momento crucial deste período é a Sexta-feira Santa. Lembro-me, de há longos anos, por volta das três horas da tarde, em qualquer lado onde estivéssemos, era transmitido um sinal para que fosse assinalado um momento de silêncio. Essa era a indicação para reflectirmos sobre o sofrimento de Cristo. Não considero que a mensagem pascal seja revolucionária, mas vejo nela uma mensagem que nós, como católicos, devemos seguir», concluiu Bessa Almeida.
Marco Carvalho