Virgem Maria sobe à Penha para a bênção de Macau
Há várias edições que O CLARIM vem anunciando a Novena e Festa de Nossa Senhora de Fátima, cujo arranque teve lugar no passado dia 4 de Maio, terminado este sábado com um extenso programa de celebrações. O ponto alto da iniciativa é a Procissão de Nossa Senhora de Fátima, entre a igreja de São Domingos e a Ermida da Penha, seguida de bênção a toda a população de Macau pelo bispo D. Stephen Lee (ver programa no rodapé da página 7). Recordamos como tudo começou, no coração de Portugal, em 1917.
Estava-se no dia 13 de Maio de 1917. Depois de três aparições preparatórias de um anjo, denominado “Anjo de Portugal”, em 1916, na tarde daquele dia deu-se a primeira aparição da Virgem Maria a três pequenos pastores no lugar da Cova da Iria, em Fátima, concelho de Ourém (Portugal). Depois, deram-se mais aparições da Virgem ao mesmo trio de jovens pastores da Serra de Aire naquele ano de 1917: a 13 de Junho, 13 de Julho, 19 de Agosto, 13 de Setembro e, a última, a 13 de Outubro. Os três videntes: Lúcia (1907-2005), Francisco (1908-1919) e Jacinta (1910-1920). Os dois últimos, da família Marto, eram irmãos, além de primos de Lúcia dos Santos. Lúcia via, ouvia e falava com a Virgem, Jacinta via e ouvia, e Francisco apenas via a “Senhora mais brilhante que o Sol”, mas não a ouvia. A aparição só se apresentou como “a Senhora do Rosário” na derradeira, a 13 de Outubro.
As aparições foram precedidas e seguidas por outros fenómenos, de acordo com o relatado pela vidente Lúcia, depois das primeiras narrações dos três videntes, no período subsequente aos acontecimentos. As descrições mais “concretas”, que a futura religiosa faria, ocorreram primeiramente em 1922, de forma sumária, e a partir de 1935, já de modo mais formal e detalhado, ficando plasmadas depois nas “Memórias” (em quatro volumes, a que se juntaram outras informações). Entretanto, depois de muitas vicissitudes, só em 1930 os acontecimentos de Fátima foram considerados dignos de valor e crédito, por parte do bispo de Leiria (diocese restaurada em 1918 e que mais tarde se denominaria de Leiria-Fátima, em 1984).
Depois da última aparição e do chamado “milagre do Sol”, a que assistiram setenta mil pessoas e que foi ratificado na revista Ilustração Portuguesapelo jornalista Avelino de Almeida, a situação ficou complexa para os três videntes, perante o descrédito de muitas pessoas, autoridades civis, e até religiosas incluídas, das narrativas dos três pastorinhos. Todavia, a mensagem de Fátima não morreu e foi perseverando como um curso de água nascente, nas pedras das serranias, por entre obstáculos e muitos violentos meandros, até se consolidar no fenómeno universal de peregrinação mariana em que se tornou.
Assim, a 28 de Abril de 1919, começa a construção da Capela das Aparições, no local da azinheira das aparições da Virgem. A 13 de Outubro de 1921, deu-se a permissão, pela primeira vez, para ali se celebrar Missa. Nove anos depois, a 13 de Outubro de 1930, o bispo de Leiria, como já aludimos, declarava como credíveis as aparições e autorizou mesmo o culto de Nossa Senhora de Fátima na sua diocese. Em Maio de 1931, no incontornável dia 13, deu-se a primeira consagração de Portugal ao Imaculado Coração de Maria, dirigida pelo Episcopado Português, como resultado da mensagem de Fátima, na forma de apelo da Virgem. Corria o ano de 1942, quando a 31 de Outubro o Papa Pio XII, em locução radiofónica em Português, consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria, fazendo no mesmo canal uma menção velada à Rússia, também na sequência dos rogos de Nossa Senhora nas aparições.
Em 1946, procedeu-se à coroação da imagem da Virgem de Fátima, no dia 13 de Maio. A imagem primitiva da Virgem de Fátima, que se encontrava na Capelinha das Aparições, foi então coroada pelo cardeal D. Masella, Legado Pontifício de Pio XII. Recorde-se que a coroa foi oferecida por mulheres portuguesas em agradecimento pelo facto de Portugal se ter livrado da Segunda Guerra Mundial. Nessa mesma coroa está ainda incrustada uma das balas que atingiram João Paulo II no atentado de 13 de Maio 1981, na Praça de São Pedro, no Vaticano. De Roma viria um Papa, Paulo VI, o primeiro a fazê-lo, em peregrinação a Fátima a 13 de Maio de 1967, na comemoração do 50.º aniversário da primeira aparição. Imbuído da mensagem de que a Virgem fora portadora em 1917, o Sumo Pontífice viera para pedir a paz mundial e a unidade da Igreja. Mais tarde, nos dias 12 e 13 de Maio de 1982, outro Papa, João Paulo II, viria a Fátima como peregrino, também para agradecer o ter sobrevivido ao referido atentado, sofrido exactamente um ano antes. Este Papa rumara também ao santuário mariano, em resposta ao apelo da Virgem em 1917, para consagrar a Igreja e o mundo ao Imaculado Coração de Maria, mais uma vez aludindo de forma subliminar à Rússia. Em 1984, a 25 de Março, o Papa polaco consagraria, mais uma vez, o mundo ao Imaculado Coração de Maria, diante da imagem peregrina da Virgem de Fátima, em união com todos os bispos do mundo. A irmã Lúcia, monja carmelita descalça no Carmelo de Coimbra, garantiria ulteriormente que esta consagração ia de encontro ao solicitado pela Virgem.
A 12 e 13 de Maio de 1991, João Paulo II regressa a Fátima, como peregrino e no décimo aniversário do seu ataque. Depois, a 13 de Maio de 2000, já na sua terceira visita a Fátima e perante uma multidão de peregrinos, beatificou Francisco e Jacinta e revelou a terceira parte do segredo de Fátima. A canonização de dois dos videntes, Francisco e Jacinta Marto, ocorreria na visita do Papa Francisco em 2017, sete anos depois da visita do Papa Bento XVI ao santuário, também num 13 de Maio. A mensagem de Fátima permanece viva e atraindo multidões, além de congregar a fé de muitos crentes em todo o mundo.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa