Nos seus pés, mãos e peito foram gravadas as chagas de Cristo
Paz e Bem a todos quantos nos lerem!
Este ano, à semelhança dos anos anteriores, anunciamos a celebração festiva de um santo que ainda hoje é querido, admirado, falado e venerado por muitos, muitos.
Com muita alegria partilhamos, embora resumidamente, a nossa festa, primeiro com todas os consagrados e consagradas na vida religiosa ou no sacerdócio diocesano, verdadeiros missionários neste canto do mundo tão diverso em culturas e religiões.
Antes, porém, não podemos deixar de referir o nosso carisma como Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora: “Espírito de Família, de União e Comunhão”, tão bem traduzido nas palavras de Mère Louise Mabille, nossa primeira Superiora Geral, em Junho de 1854:
“…Sejamos todas membros dum mesmo corpo que se ajudam e animam. Que todas e cada uma, segundo a medida da graça, trabalhemos na obra para a qual Deus nos escolheu. Ele estará ao nosso lado, para que nenhuma dificuldade nos abale. Ele nos tomará pela sua mão, para que sigamos o Seu caminho. Tenhamos uma coragem que seja não apenas grande, mas de grande alento e de longa duração; e para a ter, peçamo-la Àquele que no-la pode dar. Ele no-la dará sempre se, com simplicidade de coração, correspondermos à sua graça”.
Eis porque partilhamos com os nossos leitores o que queremos viver e testemunhar. Porém, só com a graça de Deus e a correspondência à mesma, conseguiremos concretizar o Carisma da nossa Congregação.
Temos muitos meios para o pôr em prática. Um deles é a maneira como preparamos e tentamos viver a Festa de S. Francisco de Assis, que nos ensinou a viver, na alegria e no desprendimento, servindo o Rei do céu e da terra, onde quer que estejamos (também aqui, em Macau).
É com este espírito que convidamos todos os que puderem e quiserem associar-se a nós na Eucaristia do dia 5 de Outubro (transferida do dia 4), em honra do “nosso Pai”, S. Francisco de Assis, presidida por D. Stephen Lee, nosso muito zeloso e atento Pastor da Diocese de Macau, na Sé Catedral (ou na igreja de São Domingos), às 19 horas.
Sempre que anunciamos a festa de S. Francisco de Assis, procuramos lembrá-lo através da afixação prévia de uma sua imagem apelativa. Não é verdade que, através de símbolos, imagens, estátuas, esculturas, nos aproximamos mais da realidade que representam?
Este ano escolhemos os Estigmas e o Abraço de Jesus a S. Francisco. Olhando para essas imagens/ícones, não ficamos indiferentes, pois S. Francisco assemelhou-se tanto a Jesus que, nos seus pés, mãos, e no peito, foram gravadas as chagas tão reais como em Cristo.
Estigmas de S. Francisco de Assis
S. Francisco de Assis (1182-1226), um dos santos mais familiares do catolicismo, era filho de um rico mercador de tecidos. Trocou os amigos sociais pelo Amigo fiel que o fez apaixonar-se, a ponto de O imitar até às últimas consequências, merecendo receber os sinais com que O Senhor Jesus foi impresso: as Suas Santas Chagas.
A partir do momento em que sentiu o chamamento de Jesus (1205), dedicou-se totalmente ao serviço de Deus. Tornou-se um eremita e, com o seu modo de viver, conquistou seguidores que compartilharam, como ele, um ideal de pobreza e de vivência evangélica.
Em 1209, foi a Roma pedir ao Papa Inocêncio III a bênção para o seu modo de viver. Inocêncio III aprovou. Assim nasceu oficialmente na Igreja a Ordem dos Frades Menores e, a partir daí, toda a Família Franciscana. A sua regra e vida consistia fundamentalmente em seguir Nosso Senhor Jesus Cristo e viver o santo Evangelho. Com o coração cheio de Cristo, não havia lugar para se agarrar a coisas, a riquezas. É daqui que vem a verdadeira pobreza que ele viveu, a chamada “pobreza franciscana”. Com o coração cheio de Cristo, não há lugar para mais nada: era natural o desprendimento total das coisas, que não são desvalorizadas, mas passam a estar simplesmente ao serviço do seguimento de Jesus Cristo e da vivência do Evangelho.
Em 1212 veio ter com ele Clara de Assis, de família nobre, que também quis seguir Cristo e viver o Evangelho. Francisco conduziu-a a São Damião, onde Cristo, em 1205, tinha falado a Francisco, definindo a sua vocação e a sua missão («Vai, Francisco, repara a minha casa, que ameaça ruína»). E assim nasceu a Segunda Ordem Franciscana, a Ordem das Damas Pobres ou Clarissas.
Em 1221, foram estabelecidas as bases da Ordem Terceira Franciscana. Estava a nascer a Ordem Franciscana Secular. Mais tarde, a partir da mesma Regra, surgiu a Ordem Franciscana Regular (de vida consagrada), que ao longo dos séculos veio a enriquecer a Igreja com centenas de Famílias religiosas (entre elas as “Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora”) que vivem o carisma de Francisco de Assis.
Em 1223, o Papa Honório III aprovou com Bula a Regra definitiva da Primeira Ordem Franciscana (que em 1517 se dividiu em dois ramos: a Ordem dos Frades Menores e a Ordem dos Frades Menores Conventuais, tendo-se juntado em 1227 um terceiro ramo: os Frades Menores Capuchinhos).
Em 1224 Francisco foi fazer um tempo longo de oração e meditação no Monte Alverne. A intenção era seguir Cristo sempre com mais profundidade. A intensidade de “identificação” com Jesus foi tão profunda que recebeu no seu corpo os sinais da paixão de Cristo. A Família Franciscana celebra este acontecimento como festa (“Impressão das Chagas de S. Francisco”) no dia 17 de Setembro. Foi depois da Impressão das Chagas que Francisco, em Assis, no ambiente de São Damião, onde Cristo lhe tinha definido a vocação e a missão, compôs o Cântico das Criaturas (também chamado Cântico do Irmãos Sol), louvando o Senhor por todas as criaturas que ele considerou e chamou irmãs, e dando voz a cada criatura para louvar o Criador. A última estrofe, cantando a “irmã morte”, foi acrescentada por Francisco pouco tempo antes de morrer. Foi pelo fim da tarde do dia 3 de Outubro de 1226 que Francisco, depois de uma vida de intenso e testemunhante seguimento de Cristo e vivência do Evangelho, estendido o seu corpo no chão em Santa Maria dos Anjos ou Porciúncula, partiu para a glória prometida pelo Senhor Jesus Cristo. Foi canonizado em 1228, dois anos depois da sua morte.
A sua iconografia
Esta palavra veio da junção de dois termos gregos, “eikon” = “imagem” e “graphia” = “escrita”. Significa “a escrita da imagem” (em estátuas, pinturas, gravuras e outros). Até meados do século XVI, a iconografia era um estudo limitado apenas a símbolos e imagens ligadas à religião. Daí o aparecimento de muitas esculturas, imagens de santos e de anjos, e também da vida de Jesus Cristo.
A palavra “ícone” vem da associação da imagem com o sagrado. A iconografiade S. Francisco é muito completa, de entre os santos. As mais antigas representações aparecem poucos anos após sua morte. Iniciam-se na Itália, tendo por base as fontes biográficas de Tomás de Celanoe São Boaventura, espalhando-se depois por todo o mundo cristão.
Em muitas das imagens, Francisco é representado com túnica castanha e uma corda de três nós à cintura, lembrando os votos de pobreza, obediência e castidade. As chagas nas mãos e nos pés e, às vezes, no peito são geralmente visíveis.
Muitos leigos e religiosos ainda hoje apreciam ter imagens dos santos para manter ou aumentar a sua devoção. Assim acontece com S. Francisco de Assis. Assim acontece também com Santo António de Lisboa, que foi o primeiro franciscano português, que entrou na Ordem Franciscana em 1220, ainda conviveu com Francisco de Assis até 1226, veio a falecer em 1231 e foi canonizado em 1232.
Irmã Maria Lúcia Fonseca (FMNS)