Mãe de Rei é Rainha
A Igreja em Macau junta-se à Igreja universal na próxima segunda-feira, 22 de Agosto, na celebração da Festa de Nossa Senhora Rainha. As missas têm lugar no horário habitual.
A Virgem Santa Maria, que deu à luz o Filho de Deus, príncipe da paz, cujo reino não tem fim, é celebrada pelo povo cristão como Rainha do Céu e Mãe de Misericórdia. Esta Memória foi instituída em 1955, pelo Papa Pio XII (1939-1959), e celebra-se a 22 Agosto.
Antes de mais, uma “Memória” é uma celebração litúrgica de um santo, a dedicação de uma igreja ou um mistério religioso. A festa litúrgica da Virgem Santa Maria, Rainha, ou da realeza de Maria, começou a ser idealizada em alguns congressos marianos a partir do ano de 1900. Em 1925, o Papa Pio XI (1921-1939) instituiu a Festa de Cristo Rei. Em 1954, na conclusão do centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, Pio XII anunciou esta Festa para o dia 31 de Maio (a concluir o mês de Maria). Nessa proclamação, o Papa coroou Nossa Senhora na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma (Itália). No dia 11 de Outubro de 1954, Pio XII promulgou também a encíclica Ad Caeli Reginam(“À Rainha do Céu”). A carta é um tratado sobre a realeza e a dignidade de Maria. Mas só na reforma do calendário, promovida pelo Concílio Vaticano II (1962-1965), é que a Festa foi fixada na oitava da Assunção de Nossa Senhora, a 22 de Agosto, para manifestar a relação que existe entre a realeza de Maria e a sua Assunção ao céu. O Papa Pio XII fundamentava, na carta, que “os Teólogos da Igreja, definindo a sua doutrina” consultaram os escritos e os sermões de vários santos, bem como testemunhos da Tradição antiga. Concluiu que os Santos e a Tradição “se referem à Santíssima Virgem Mãe como Rainha de todas as coisas criadas, Rainha do mundo, Senhora do universo”.
FUNDAMENTOS DA MEMÓRIA
A realeza de Maria tem raízes nas Escrituras. Na Anunciação, Gabriel anunciou que o Filho de Maria receberia o trono de David e que governaria para sempre. Na Visitação, Isabel chama Maria de “mãe do meu Senhor”. Como em todos os mistérios da sua vida, Maria está intimamente associada a Jesus: a sua realeza é uma participação na realeza de Jesus. Se recuarmos, podemos até aferir que no Antigo Testamento a mãe de um rei tem grande influência nas Cortes. No Século IV, Santo Efrém (306-373) designou Maria como “Senhora” e “Rainha”. Mais tarde, os Padres e Doutores da Igreja continuaram a usar os mesmos títulos. Hinos dos Séculos XI a XIII abordam Maria como rainha: “Salve, Rainha Santa”, “Salve, Rainha do Céu”, ou “Rainha do Céu”. O rosário dominicano e a coroa franciscana, bem como inúmeras invocações na ladainha de Maria, celebram também desde sempre a sua realeza.
Esta Memória é um seguimento lógico da Assunção (15 de Agosto), pelo que se tornou celebrada no dia da oitava daquela Festa. Na sua encíclica de 1954 “À Rainha do Céu”, Pio XII assinala que Maria merece o título porque é Mãe de Deus, porque está intimamente associada como Nova Eva à obra redentora de Jesus, pela sua perfeição preeminente e pelo seu poder intercessor. A celebração do Reinado de Nossa Senhora tem também fundamento na Festa de Cristo Rei do Universo, ou, Festa do “Reinado de Cristo”. Como Jesus Cristo é Rei, a Sua mãe terrena, pura e imaculada, é também Rainha, referem os teólogos. Não se trata de um reino deste mundo, mas de um reinado eterno, universal, segundo a vontade de Deus. Depois, também a constituição dogmática Lumen Gentium(Luz dos Povos), do Concílio Vaticano II (promulgada em 21 Novembro 1964), no seu Capítulo 59 exalta a Virgem Maria como rainha. Depois, já outras figuras da Igreja, como São Luís Maria Grignon de Monfort (1673-1716), se dedicaram à realeza de Maria. Montfort, autor do “Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Maria”, escreveu que “Maria é a rainha do Céu e da terra, por graça, como Cristo é Rei por natureza e por conquista”. Exaltações que seriam repetidas por Papas, como Paulo VI (1963-1978), na sua exortação apostólica intitulada Marialis Cultus(“Culto a Maria”), ou Bento XVI (2005-2013), que reiteram a sua intercessão e amor aos que neste mundo caminham.
Vítor Teixeira
Universidade Fernando Pessoa
LEGENDA: Papa Pio XII junto à imagem de Nossa Senhora Rainha