Os Estigmas de São Francisco de Assis

FESTA DA IMPRESSÃO DAS CHAGAS CELEBROU-SE NA PASSADA TERÇA-FEIRA

Os Estigmas de São Francisco de Assis

São Francisco amou tanto a Deus e apaixonou-se tanto por viver o Evangelho que nele se tornou real a identificação com o próprio Jesus Crucificado. Francisco é o «Servo crucificado do Senhor Crucificado» (1Cel., 95,5).

A festa dos Estigmas de São Francisco, mais que um grande milagre, recorda a sua própria trajectória de vida e vocação. É o santo que fez da sua vida o caminho e a meta da Cruz de Jesus.

O chamamento de Francisco a uma vida de penitência teve dois momentos altos: o encontro com o leproso e o encontro com o crucifixo de São Damião. Francisco encontra neles a pessoa de Cristo Crucificado (LM., 1,6,2).

Ao afirmar no seu Testamento que “Aquilo que me parecia amargo converteu- se em doçura da alma e do corpo”, Francisco não vence apenas a repugnância, mas compadece-se e ama o leproso, a ponto de o beijar.

No segundo momento – o encontro com o crucifixo de São Damião –, o jovem sente que tem uma missão: a de “reconstruir a Igreja”, não a igreja de pedra, mas a do coração dos homens e isso acentua ainda mais o seu amor pela Paixão de Jesus Cristo.

Só vê-l’O na Cruz se comovia de tal maneira que trazia no seu coração os estigmas do Senhor. A Cruz do Senhor em São Damião e o beijo do leproso fazem parte inseparável da sua vida e o caminho que o leva ao Monte Alverne muitas vezes. Foi lá que recebeu os estigmas e onde experimentou a Cruz e o amor de Deus de uma forma mais real e radical. Por isso se entregou a Ele com todo o seu corpo e com toda a sua alma. Para Francisco, a sua maior alegria era sentir a dor e o amor infinitos de Jesus na Cruz e cumprir “à risca” o Evangelho.

Três anos antes da sua morte, no final do Verão de 1223, encontrando-se numa fase de grande angústia, Francisco vai ao Monte Alverne para fazer a quaresma de São Miguel arcanjo, de quem era um grande devoto.

Além da doença física, experimenta a tristeza de ver a Ordem desvirtuar-se daquilo que o tinha inspirado a viver a verdadeira pobreza evangélica para si e seus irmãos, que livremente tinham abraçado esse estilo de vida.

Assim como Cristo subiu ao Calvário, também Francisco sobe ao Monte Alverne. O servo faz a experiência do Senhor dos Passos, sente a angústia, o medo e a solidão. E é no profundo abandono a Jesus Crucificado que Francisco é visitado pelo Senhor através de um Serafim Alado. A experiência da solidão, o mergulho no nada, a ânsia de se completarem entre si as dores do seu Senhor, fizeram com que o verdadeiro encontro do Amor divino e misericordioso para com a humanidade do pobre servo se tornasse uma resposta de Deus àquele a quem tanto procurou manter-se n’Ele e sentir em seu corpo o amor e a dor de Cristo na Cruz.

No Alverne, diante do Serafim, Francisco já não busca, mas deixa-se encontrar, em contemplação transcendente, com Aquele que sofreu, em sua carne, a Paixão e a morte na Cruz e, aí, recebe as mesmas marcas de Jesus, nas mãos, pés e no peito.

Tudo aquilo que estava interiorizado em sua vida se converteu em sinais visíveis que o fizeram tornar-se outro Cristo!

No dia 17 de Setembro a família franciscana celebrou – também em Macau – a festa da impressão das chagas do Seráfico pai São Francisco. Esta festa antiga foi aprovada pelo Papa Bento XI (1303-1304), fazendo memória daquele facto miraculoso ocorrido no Monte Alverne em 1223.

Francisco muito desejava que as sagradas chagas ficassem sempre ocultas. Um escrito muito antigo franciscano – “Considerações sobre os Sacrossantos Estigmas” – regista uma oração que o santo dirigiu a nosso Senhor Jesus Cristo enquanto estava retirado no Alverne: “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora de tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores” (Considerações dos Estigmas 3).

Irmã Maria Lúcia Fonseca 

Franciscanas Missionárias de Nossa Senhora

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