DIOCESE DE MACAU CELEBROU ONTEM SANTA MARIA MADALENA

DIOCESE DE MACAU CELEBROU ONTEM SANTA MARIA MADALENA

A apóstola dos apóstolos

A diocese de Macau celebrou ontem a Festa de Santa Maria Madalena, nos horários habituais das missas diárias. Para o efeito, no passado Domingo, o padre Daniel Ribeiro, vigário paroquial da Sé Catedral para a comunidade de língua portuguesa, convidou os fiéis a juntarem-se à data, tendo inclusivamente pedido a bênção de Deus por intercessão de Santa Maria Madalena. A iniciativa de adicionar esta festa ao calendário litúrgico partiu do Papa Francisco, sendo oficializada em 2016. São Tomás de Aquino considerou Maria Madalena como a “apóstola dos apóstolos”.

Maria Madalena, cujo nome deriva de Magdala, nasceu numa aldeia de pescadores situada nas margens ocidentais do Lago de Tiberíades. O evangelista Lucas sobre a Santa fala e descreve o momento da sua “cura e libertação”: «Algum tempo depois Jesus saiu e viajou por cidades e povoados, anunciando a boa notícia do Reino de Deus. Os doze discípulos foram com ele, e também algumas mulheres que haviam sido livradas de espíritos maus e curadas de doenças. Eram [elas]Maria, chamada Madalena, de quem tinham sido expulsos sete demónios; Joana, mulher de Cuza, que era alto funcionário do governo de Herodes; Susana e muitas outras mulheres que, com os seus próprios recursos, ajudavam Jesus e os seus discípulos» (Lucas, 8:3).

O padre Gonçalo Portocarrero de Almada, num dos seus artigos no Observador, realça que a questão mais difícil é a de apurar quem foi, de facto, Maria Madalena. No passado, afirma o sacerdote, “houve quem a identificasse com a pecadora que derramou o perfume em casa de Simão, o fariseu; mas a moderna exegese desmente essa identificação. Talvez essa confusão tenha originado a má fama que, desde então, persegue esta santa. Com efeito, a tradição popular imputa-lhe um passado luxurioso, que a Bíblia, contudo, não corrobora”.

Portocarrero refere que mais importante do que averiguar o passado, mais ou menos pecaminoso, de Maria Madalena, interessa a sua virtude, o seu amor a Cristo, porque também ela, como aliás todos nós, só pôde ser perdoada no amor, como Jesus ensinou ao farisaico Simão: «Graças a isso te digo: estão perdoados os seus muitos pecados, porque muito amou. Mas a quem pouco se perdoa, pouco ama» (Lucas, 7:47).

NA MORTE E NA RESSURREIÇÃO

Maria Madalena aparece nos Evangelhos no momento mais terrível e dramático da vida de Jesus: quando o acompanha ao Calvário, com outras mulheres, e o contempla de longe. Aparece também quando José de Arimateia coloca o corpo de Jesus no sepulcro, que fora fechado com uma pedra. Foi ela, depois do sábado, na manhã do primeiro dia da semana, quem voltou ao sepulcro e descobriu que a pedra havia sido removida e correu a avisar Pedro e João; eles, por sua vez, foram à pressa ao sepulcro e viram que o corpo do Senhor não estava mais lá.

Enquanto os dois discípulos voltam para casa, Maria Madalena permanece diante do sepulcro, em lágrimas. Ao olhar para dentro, viu dois anjos, a quem perguntou para onde fora levado o corpo do Senhor. Depois, voltando para fora, viu Jesus, mas não o reconheceu, pensando que fosse o jardineiro; este perguntou-lhe por que chorava e quem procurava. Ela respondeu: «Senhor, se tu o tiraste, dizei-me onde o puseste e eu o irei buscar». Jesus, então, chama-a pelo nome: «Maria!». E ela, voltando-se, disse: «Rabôni!», que em Hebraico quer dizer “Mestre!”. E Jesus confia-lhe uma missão: «Não me toques, pois ainda não subi para o Pai! Mas vai aos meus irmãos e diz-lhes: “Subo para o meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”» (João, 20:17). Maria de Magdala foi imediatamente anunciar aos discípulos: «“Vi o Senhor!”, e as coisas que a ela tinha dito» (João, 20).

Maria Madalena foi a primeira das mulheres que seguiram Jesus e o proclamou como Aquele que venceu a morte. Deste modo converteu-se em evangelista, ou seja, em mensageira que anuncia a Boa Nova da ressurreição do Senhor.

FESTA LITÚRGICA

Com data de 3 de Junho de 2016, o Papa Francisco, por meio de um dos seus mais próximos e valiosos colaboradores, o cardeal D. Robert Sarah, à época o prefeito para a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, decretou que a celebração litúrgica de Santa Maria Madalena passasse a ser Festa, a qual se realizaria todos os anos no dia 22 de Julho, que era já o dia da sua memória.

Esta promoção litúrgica da santa de Magdala ocorreu por exigência de vários critérios pastorais que o respectivo decreto sumariza: “Na actualidade, quando a Igreja é chamada a reflectir mais profundamente sobre a dignidade da mulher, a nova evangelização e a grandeza do mistério da misericórdia divina, pareceu conveniente que o exemplo de Santa Maria Madalena fosse também proposto aos fiéis de uma forma mais adequada. Com efeito, esta mulher conhecida por ter amado Cristo e por ter sido muito amada por Cristo, chamada por São Gregório Magno ‘testemunha da divina misericórdia’ e por São Tomás de Aquino ‘a apóstola dos apóstolos’, pode ser hoje proposta aos fiéis como paradigma do serviço das mulheres na Igreja”.

Segundo o padre Portocarrero, os que pretendem a promoção das mulheres na Igreja por via da sua clericalização, talvez pensem que esta reforma litúrgica prenuncia a sua admissão ao sacerdócio ministerial, mas é mais lógico que queira dizer exactamente o contrário. “Com efeito, se Maria Madalena, sem ter nunca recebido o diaconado, nem o presbiterado ou o episcopado, pôde ser e de facto foi apóstola, também todas as mulheres cristãs, sem necessidade do sacramento da Ordem em nenhum dos seus três graus, podem e devem ser, sejam leigas ou consagradas, solteiras ou casadas, não só apóstolas, mas apóstolas de apóstolos, como Santa Maria Madalena!”, considera Portocarrero.

ZELO MISSIONÁRIO

O famoso hagiógrafo Butler, na obra da sua autoria “Vida dos Santos”, fala-nos que segundo a tradição oriental Maria Madalena, depois do Pentecostes, acompanhou Nossa Senhora e São João Evangelista até Éfeso, onde veio a falecer e foi enterrada. Segundo Butler, o peregrino inglês São Vilibaldo teve a oportunidade de ver, lá, o seu túmulo, em meados do Século VIII. Todavia, o hagiógrafo realça que “de acordo com a tradição da França, no Martirológio Romano, e conforme a concessão de diversas festas locais, ela, junto com Lázaro, Marta e outros, evangelizaram a Provença. Os últimos trinta anos da sua vida, segundo se afirma, passou-os numa gruta formada por rochas, La Sainte Baume, no alto dos Alpes Marítimos, sendo transportada milagrosamente, instantes antes da morte, para a capela de São Maximino. Ali recebeu os últimos sacramentos das mãos deste santo, sendo por ele enterrada”.

Santa Maria Madalena, rogai por nós!

Miguel Augusto

com Vatican News e Observador

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