Se quisermos amar os pobres, devemos estar perto deles
Tudo começou a 19 de Novembro de 2017, no Primeiro Dia Mundial dos Pobres, quando o Papa Francisco pediu ajuda para resolver o problema da pobreza em todo o mundo. Sua Santidade chamou a esta celebração de Dia Mundial dos Pobres, sendo realizada no 33.º Domingo do Tempo Comum de cada Ano Litúrgico (geralmente em Novembro).
Em resposta ao apelo do Papa, o bispo de Macau, D. Stephen Lee, pediu aos sacerdotes que trabalham nas paróquias que fizessem algo pelos pobres. A paróquia de São Lourenço foi uma das freguesias que respondeu imediatamente ao apelo. Assim, foi organizado um jantar para os pobres pelo então pároco, o padre Jojo Ancheril, CMF. Infelizmente, o gesto foi criticado e recebido com olhares arquejantes de alguns fiéis, que chegaram a afirmar: «Não há pobres em Macau. Se houver, são estrangeiros. Talvez [o padre Jojo] não conheça realmente a situação social em Macau». Determinado a realizar o projecto e a ajudar os pobres, o padre Jojo não deu ouvidos às críticas e continuou com o projecto.
O PROJECTO PARA OS POBRES DA PARÓQUIA DE SÃO LOURENÇO – Denominado “St. Lawrence Food for the Poor”, o projecto iniciado pelo padre Jojo arrancou com muito poucas pessoas. O número foi depois aumentando consideravelmente, tendo reunido entre sessenta a setenta pessoas. Provou-se, assim, que ao contrário do que os críticos diziam há pobres em Macau. A maioria das pessoas eram de Macau, havendo algumas de Hong Kong e da China continental.
À época, o padre Jojo falou com responsáveis de um restaurante local e ali levou o grupo para saborear refeições chinesas. Felizmente, o dono do restaurante era católico e dispôs-se a participar no projecto. Foram preparadas várias refeições sem que o lucro contasse para o efeito. Para o proprietário, o mais importante era ajudar aquelas pessoas.
Como o andar do tempo, o número de pobres abrangidos pelo projecto foi aumentando, o que levou os responsáveis pela iniciativa a procurarem um espaço maior. Foi então que ao contactarem com outro restaurante o seu proprietário decidiu oferecer refeições aos pobres, em regime “buffet”, no último sábado de cada mês. Para acomodar o crescente número de pobres, o salão da igreja de São Lourenço passou a ser também utilizado como sede deste projecto. Alguns paroquianos ficaram felizes por fazer parte do programa, oferecendo-se como voluntários, na qualidade de ajudantes e organizadores, em todas as refeições. A Sociedade de São Vicente de Paulo, uma organização de caridade que ajuda os pobres, também se ofereceu para assumir as despesas. Hoje, os sacerdotes claretianos, com a colaboração de outros missionários em Macau, sustentam a missão e, consequentemente, o projecto dedicado aos pobres.
DIGNIDADE E RESPEITO PELOS POBRES
Na sua Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres deste ano, publicada a 13 de Junho, o Papa Francisco reflecte sobre o exemplo de Tobias. O Santo Padre considera que o Livro de Tobias nos ensina a ser realistas e práticos em tudo o que fazemos com e para os pobres. Afirma o Papa que “interessar-se pelos pobres não se esgota em esmolas apressadas; pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afectadas pela pobreza”.
Jesus humildemente se sacrificou, estando ele sentado à direita do Pai, para descer e se juntar a nós, para estar fisicamente perto de nós. E antes de ir à cruz para garantir eternamente essa proximidade, exerceu o ministério no meio de nós: ouviu as nossas histórias, ouvindo pacientemente o bom e o mau, como fez com a mulher junto ao poço. Creio que é assim que o Papa quer que celebremos o Dia Mundial dos Pobres – não visitando os pobres apenas uma vez por ano, mas prestando-lhes dedicação total ao longo do ano.
O exemplo de Jesus é claro diante de nós, que também fomos feitos não apenas para rezar pelos pobres, doentes e pelas pessoas necessitadas deste mundo, mas para nos deslocarmos presencialmente junto delas nas comunidades em que estamos inseridos. Devemos estar ao lado destas pessoas: ouvir as suas histórias, ajudar a curar os feridos e sentirmos empatia por quem nos deparamos. “Quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado oposto, porque impediríamos a nós próprios de encontrar o rosto do Senhor Jesus”, refere o Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial dos Pobres.
Pe. Leonard Dollentas