DEPOIS DO DOMINGO DE PÁSCOA, A IGREJA CELEBRA O DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

DEPOIS DO DOMINGO DE PÁSCOA, A IGREJA CELEBRA O DOMINGO DA DIVINA MISERICÓRDIA

Derradeiras graças pelo Coração Santíssimo

Depois da Ressurreição do Senhor, a Igreja universal celebra o Segundo Domingo de Páscoa. Desde Abril de 2000 que é designado como “Domingo da Divina Misericórdia”, em resultado de um pedido que Jesus fez à irmã polaca Maria Faustina Kowalska – conhecida como apostola da Divina Misericórdia. Assim, o Papa São João Paulo II, no dia da canonização da irmã Faustina (30 de Abril de 2000), declarou que a partir desta data o Segundo Domingo de Páscoa seria dedicado à Divina Misericórdia. Neste âmbito, desde a passada sexta-feira que os fiéis de Macau cumprem uma novena de oração.

Na Sexta-feira da Paixão do Senhor, após a Procissão do Senhor morto, realizada na igreja da Sé Catedral, deu-se início à novena de oração dedicada à Divina Misericórdia, tendo como base as revelações privadas de Jesus à irmã Faustina, que ficaram registadas no seu “Diário”.

Em Setembro de 2018, a Sé Catedral recebeu um novo vitral com a imagem da irmã Faustina e Jesus Misericordioso (na foto), que se encontra numa das capelas laterais. Sobre o seu altar está uma relíquia da Santa Cruz e também uma imagem na parede representativa de Jesus Misericordioso.

Perante a vontade de Deus em se propagar a Sua Divina Misericórdia, a Santa Faustina deixou palavras proféticas em “Diário”: “Pressinto bem que a minha missão não termina com a minha morte, mas começará com ela” (Pág. 281).

Durante a canonização da religiosa, o Papa João Paulo II lembrou as palavras de Cristo ressuscitado, que no Cenáculo trouxe o grande anúncio da Misericórdia Divina e confiou aos Apóstolos o seu ministério (João 20:21-23). O Papa recordou que Jesus mostra as mãos e o lado do corpo, isto é, as feridas da Paixão, sobretudo, a chaga do coração, fonte onde nasce a grande onda de misericórdia que inunda a Humanidade. Deste coração, a irmã Faustina viu partir dois fachos de luz que iluminam o mundo: “Os dois raios, explicou-lhe certa vez o próprio Jesus, representam o sangue e a água” (Diário, pág. 299).

Karol Wojtyla refere o testemunho do evangelista João acerca do soldado que no Calvário atingiu o lado de Cristo com a lança. Dali jorrou «sangue e água» (João 19:34). O sangue evoca o sacrifício da cruz e o dom eucarístico; a água, na simbologia joanina, recorda não só o Baptismo, mas também o dom do Espírito Santo (João 3:5; 4:14; 7:37-39).

«“Minha filha, diz que sou o Amor e a Misericórdia em pessoa”, pedirá Jesus à irmã Faustina. Cristo derrama esta misericórdia sobre a humanidade mediante o envio do Espírito que, na Trindade, é a Pessoa-Amor», afirmou o Santo Padre.

Na mesma reflexão, João Paulo II interroga-se perante as incertezas do futuro, as quais sempre estão presentes, dando-nos conforto pela confiança na Divina Misericórdia: «O que nos trarão os anos que estão diante de nós? Como será o futuro do homem sobre a terra? A nós não é dado sabê-lo. Contudo, é certo que ao lado de novos progressos não faltarão, infelizmente, experiências dolorosas. Mas a luz da misericórdia divina, que o Senhor quis como que entregar de novo ao mundo através do carisma da irmã Faustina, iluminará o caminho dos homens do terceiro milénio».

Para o Pontífice, este caminho requer que a Humanidade se deixe atingir e penetrar pelo Espírito que Cristo ressuscitado lhe confere. Realça que é o Espírito que cura as feridas do coração, abate as barreiras que nos separam de Deus e nos dividem entre nós, enquanto restitui ao mesmo tempo a alegria do amor do Pai e a unidade fraterna.

A liturgia do dia 30 de Abril de 2000 parece traçar o caminho da misericórdia que enquanto reconstrói a relação de cada um com Deus suscita entre os homens novas relações de solidariedade fraterna. Cristo ensinou-nos – continuou o Papa – que «o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a “ter misericórdia” para com os demais. “Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mateus 5:7)». Neste sentido, o Senhor indicou-nos as múltiplas vias da misericórdia, que não só perdoa os pecados, mas vai também ao encontro de todas as necessidades dos homens: «Jesus inclinou-se sobre toda a miséria humana, material e espiritual», acentuou.

A terminar, João Paulo II encorajou cada um dos presentes na cerimónia a sentir-se confiante na busca da misericórdia de Deus. Sublinhou que esta mensagem consoladora dirige-se sobretudo a quem, afligido por uma provação particularmente dura ou esmagado pelo peso dos pecados cometidos, perdeu toda a confiança na vida e se sente tentado a ceder ao desespero.

A todos os que se confiaram à Divina Misericórdia, João Paulo II confortou: «Apresenta-se-lhe o rosto suave de Cristo, chegando-lhe aqueles raios que partem do seu coração e iluminam, aquecem e indicam o caminho, e infundem esperança. Quantas almas já foram consoladas pela invocação “Jesus, confio em Ti” [“Jezu ufam tobie!”], que a Providência sugeriu através da irmã Faustina! Este simples acto de abandono a Jesus dissipa as nuvens mais densas e faz chegar um raio de luz à vida de cada um».

Volvidos sete anos, também no Domingo da Divina Misericórdia, o Papa Bento XVI apelou a despertarmos para uma reflexão mais profunda sobre a Divina Misericórdia. Na ocasião, afirmou que as misericórdias de Deus acompanham-nos dia-após-dia. E como senti-las? Perguntou, respondendo de seguida: «É suficiente que tenhamos o coração vigilante para as poder sentir. Somos demasiado inclinados para sentir apenas a fadiga quotidiana que, como filhos de Adão, nos foi imposta. Mas se abrirmos o nosso coração, então podemos, mesmo imersos nela, ver também continuamente quanto Deus é bom connosco; como Ele pensa em nós nas pequenas coisas, ajudando-nos assim a alcançar as grandes».

M.A.

FOTO:Miguel Augusto

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