Simpósio do Instituto Ricci em Outubro, mas só pela Internet
Palestras e sessões de cinema adiadas, pelo menos um concerto cancelado e a principal iniciativa dinamizada pelo organismo – o Simpósio Anual – reconvertida num certame cem por cento digital. O programa de actividades do Instituto Ricci de Macau não se subtraiu ao impacto da pandemia, mas a entidade liderada pelo padre Stephan Rothlin vai procurar recuperar parte do tempo perdido, com a realização, já na próxima semana, de uma palestra sobre os primórdios do Cristianismo na China.
O Auditório D. Bosco, no campus da Universidade de São José, acolhe ao final da tarde da próxima quinta-feira a primeira actividade presencial pública dinamizada pelo Instituto Ricci de Macau (IRM) em 2020. O surto epidémico do novo coronavírus obrigou os responsáveis pelo “think tank” da Companhia de Jesus a adiar algumas das iniciativas previstas para a primeira metade do ano e a recorrer à Internet e a um ambiente virtual para dinamizar cursos e acções de formação, disse a’O CLARIMo director do organismo, o padre Stephan Rothlin.
A primeira palestra pública promovida pelo Instituto Ricci em mais de meio ano promove uma viagem pelos primórdios do Cristianismo na China, num périplo histórico e cultural conduzido pelo missionário comboniano Victor Aguilar. «O legado dos cristãos siríacos no que toca à inculturação do Cristianismo na China é tido como extremamente importante. A famosa estela de Xi’an reflecte o processo, datado da dinastia Tang, através do qual “a luminosa religião” se procurou definir de forma a se poder identificar com as tradições e a sabedoria local, incluindo com a ética confuciana», explicou sacerdote suíço. «A tese de doutoramento do padre Victor Aguilar, que recebeu um prémio da Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma, é considerada como absolutamente inovadora no âmbito deste complexo tópico. Espero que muita gente possa assistir a esta iniciativa e aprender um pouco mais sobre esta questão», acrescentou o responsável.
Intitulada “O Dao do Céu: O Processo de Inculturação das Primeiras Comunidades Cristãs na China”, a intervenção do padre Victor Aguilar vai abordar, entre outros aspectos, os esforços desenvolvidos pelos cristãos nestorianos para compreender, traduzir, explicar e transmitir a Palavra de Deus e o percursos de Jesus Cristo num contexto tão radicalmente diferente como era o chinês.
Para o padre Stephan Rothlin, a experiência das comunidades nestorianas responsáveis pela gravação da estela de Xi’an expressa aquele que é o maior desafio com que os católicos da China desde sempre se depararam. «As primeiras tentativas de inculturação da fé cristã foram protagonizadas, muito provavelmente, por cristãos do rito siríaco e são vistas como muito relevantes, uma vez que sintetizam aqueles que são os desafios com que se deparam os cristãos, tenham eles nascido dentro ou fora das fronteiras do Império do Meio», referiu o director do IRM. «O maior desses desafios é o de permanecer fiel à fé que depositam em Cristo crucificado e ressuscitado, ao mesmo tempo que fazem tudo ao seu alcance para fazer com que esta fé se consiga enraizar na cultura e nas tradições locais», completou.
SIMPÓSIO ANUAL ONLINE
A pandemia do Covid-19 levou os responsáveis pelo Instituto Ricci de Macau a adiar ou a reconverter alguns dos eventos e iniciativas que estavam previstas para o primeiro semestre e o impacto do surto vai continuar a fazer-se sentir na segunda metade do ano, reconheceu o padre Stephan Rothlin. Em causa está a forma como vai ser promovido o principal certame anual impulsionado pelo organismo. Por causa da crise de saúde pública e das medidas de contingência decretadas para travar a disseminação do novo coronavírus, a edição de 2020 do Simpósio do Instituto Ricci, previsto para 15 e 16 de Outubro, vai realizar-se integralmente através de plataformas digitais. «Como nos parece que esta pandemia não vai serenar tão cedo, o principal evento promovido pelo IRM, o Simpósio agendado para 15 e 16 de Outubro vai ser organizado exclusivamente através da Internet e terá como tema “O paradigma da economia orientada para o Bem Comum”, na sequência de um pedido formulado pelo Papa Francisco, cuja conferência em Assis sobre o mesmo tema estava prevista para o final de Março e foi adiada para 19, 20 e 21 de Novembro», sublinhou. «Vamos dar continuidade à iniciativa “Caminhos da Reconciliação e da Paz”, desenvolvida no âmbito da formação em Contemplação e Liderança no contexto da agitação social em contextos que nos são próximos e outros que nem por isso».
Apesar das actuais limitações, a actividade editoral do IRM não abrandou. A mais recente edição da revista do Instituto Ricci de Macau tem como foco central temas como a ética e os meios audiovisuais e coloca em destaque os encontros cinematográficos promovidos pelo centro de reflexão da Companhia de Jesus. A iniciativa, este ano dedicada a dois vultos do Catolicismo contemporâneo – o Papa Francisco e o arcebispo salvadorenho D. Óscar Romero – foi um dos eventos que acabaram por ser adiados, explicou ainda o padre Stephan Rothlin: «O Fórum para a Protecção Ambiental, organizado em cooperação com o Governo de Macau foi adiado para 28 de Setembro e o mesmo sucedeu com a palestra do professor David Urrows sobre a pedagogia jesuíta no campo da música, que foi adiada para o dia 11 de Novembro. No que diz respeito aos encontros cinematográficos e à projecção dos filmes “Romero”, quando passam quarenta anos sobre o seu assassinato, e “Francisco – Um Homem de Palavra”, vou adiar estes certames quando houver disponibilidade da parte da Universidade de São José, do Colégio Mateus Ricci e da Escola Estrela do Mar».
«Infelizmente também tivemos de cancelar um concerto para órgão, previsto para a igreja do Seminário de São José. O concerto tinha como propósito evocar a memória do padre Killian Stumpf, que morreu há trezentos anos. Conseguimos, ainda assim, lançar o segundo volume da sua “Acta Pekinensia”, sobre a Controvérsia dos Ritos, em conjunto com o padre Antoni Üçeler, o director do Instituto Ricci de São Francisco. O livro foi lançado na Universidade de Oxford a 11 de Março», concluiu o padre Stephan Rothlin.
Marco Carvalho