«Vou avaliar como as escolas são administradas pelas ordens religiosas»
As escolas católicas ajudaram a formar ao longo das últimas décadas várias gerações de residentes de Macau. Ocupam um lugar central no panorama educativo do território, mas nunca foram alvo de um estudo exaustivo sobre as razões que levam milhares de famílias a confiar-lhes a educação dos filhos. Agora, um jovem missionário dominicano quer perceber qual a percepção que alunos, pais e professores têm sobre os estabelecimentos de ensino católicos e que tipo de valores inspiram. Aluno de doutoramento da Universidade de São José, o padre Lawrence The Reh em entrevista a’O CLARIM.
O CLARIM– O que propõe fazer no âmbito do seu estudo de doutoramento? Quais são os seus objectivos?
PADRE LAWRENCE THE REH– O objectivo do meu estudo de doutoramento é investigar a percepção que professores, alunos e pais têm da identidade das escolas a que estão associados, tendo em conta a natureza católica dos estabelecimentos. O meu objectivo é, fundamentalmente, o de tomar o pulso às suas experiências e analisar que tipo de entendimento têm desta realidade. Para conseguir alcançar este objectivo, vou comparar as ideias que a Igreja defende sobre o ensino e a educação e compará-las com a realidade local. A identidade católica das escolas católicas de Macau é o foco essencial da minha tese de doutoramento.
CL– Ainda não começou a interrogar pais, crianças e professores, mas com que tipo de percepção sobre a relevância dos estabelecimentos católicos é que parte para esta missão?
P.L.T.R.– O meu principal objectivo é interrogar pais, alunos e professores sobre o entendimento que têm da relevância do “ethos”, dos valores associados às escolas católicas. Outro aspecto importante é entrevistar os participantes sobre a sua experiência pessoal e a forma como ela influência a percepção que alimentam sobre as escolas católicas. Há indicações que são transmitidas aos professores pela Igreja que ajudam a clarificar o conjunto de valores que definem o “ethos” das escolas católicas, mas também estou interessado em compreender que percepção têm os participantes desse “ethos” católico. Este é o principal propósito do meu trabalho e é esta dimensão que eu vou tentar compreender junto dos participantes.
CL– O conjunto de valores de que estava a falar é algo que diferencia muito claramente as escolas católicas das demais escolas em Macau. São valores que não encontramos noutras escolas locais…
P.L.T.R.– Sim. Por exemplo, os sinais que as escolas católicas enviam no que respeita às dinâmicas sociais e culturais exteriores à escola são algo que não vemos em outras escolas. Se não houvesse escolas católicas, não veríamos este tipo de sinais associados a instituições de ensino. Como dizia, estes sinais direccionados para o exterior são uma componente estruturante do “ethos” das escolas católicos e são particularmente visíveis nas escolas católicas, exactamente porque os estabelecimentos de ensino têm essa dimensão católica. Para perceber o quão importantes são estes sinais, vou abordar os participantes sobre a sua experiência pessoal, sobre os aspectos que mais valorizam nas escolas católicas. Vou questionar os professores sobre a sua experiência e o entendimento que têm destes sinais como marcas do “ethos” católico nas escolas católicas de Macau.
CL– Quantas pessoas se propõe abordar no contexto desta investigação? E quando prevê que esteja concluída?
P.L.T.R.– Bem, tenciono concluir a minha tese de doutoramento em 2023. O meu objectivo é interrogar estudantes, professores e pais de cinco escolas católicas, administradas por outras tantas ordens religiosas. Vou focar-me em apenas cinco escolas, mas para levar a minha investigação a bom porto vou distribuir questionários por todos os participantes, ainda que o meu alvo, no que diz respeito aos alunos, sejam só os alunos que frequentam o 12º ano. Vou abordar os pais e professores destas cinco escolas através de um questionário. No âmbito da minha abordagem, vou fazer uso de um método misto direccionado tanto para a investigação quantitativa, como para a investigação qualitativa. Vou distribuir os questionários tendo em vista a abordagem quantitativa e no âmbito da abordagem qualitativa, tenciono entrevistar os professores. Vou distribuir os inquéritos por todos os participantes, de forma a avaliar a sua experiência pessoal e a percepção que alimentam face ao “ethos” das escolas católicas, mas vou entrevistar apenas os professores.
CL– Estamos a falar, muito provavelmente, de centenas de inquéritos e de participantes. Tem uma ideia do número de pessoas que poderão estar envolvidas no seu estudo?
P.L.T.R.– Ainda não sei bem ao certo, porque ainda não contactei as escolas. Mas o meu objectivo, como dizia, é o de me cingir a cinco escolas. Na Escola São Paulo, por exemplo, os estudantes, os professores e os pais que tenciono interrogar deverão totalizar cerca de um milhar. Se me focar, como é minha intenção, apenas nos alunos do 12º ano e incluir os seus professores e os seus pais, o mais certo é estar a lidar com cerca de um milhar de inquéritos, isto numa única escola. Se fizermos as contas às cinco escolas, é provável que o número de participantes seja de entre quatro a cinco mil. Mas os valores da amostragem continuam, em grande medida, a ser uma incógnita. O meu próximo passo passa por pedir autorização aos alunos e só depois estarei em posição de conhecer o número exacto de participantes.
CL– A Escola São Paulo é um dos estabelecimentos de ensino com os quais vai trabalhar. Quais são os outros?
P.L.T.R.– O meu objectivo é focar-me numa escola dominicana, a Escola São Paulo; numa escola jesuíta, numa escola canossiana, numa escola salesiana e numa escola franciscana. No total, são cinco escolas e cinco ordens religiosas.
CL– Há diferenças significativas, por exemplo, entre a forma como se ensina numa escola dominicana e numa escola jesuíta? Propõe-se abordar este aspecto na sua tese de doutoramento?
P.L.T.R.– Sim. Cada uma destas escolas tem a sua própria abordagem pedagógica. Um dos principais objectivos do estudo é procurar perceber qual a percepção que cada um dos participantes alimenta em relação à sua própria escola. Um dos aspectos que vou avaliar é a forma como as escolas são administradas por diferentes ordens religiosas. Cada uma destas ordens alimenta a sua própria visão em termos educativos, definiu a sua própria missão e este aspecto particular é algo que vou abordar num pequeno capítulo deste estudo. Por exemplo, na nossa escola dominicana, estamos mais direccionados para a vida da comunidade e para o ambiente que proporciona. Neste momento não sei qual é a prioridade das outras escolas. É necessária uma investigação mais aprofundada.
Marco Carvalho