Depois do Turismo e do Património, a vez da Saúde!
Em Setembro de 2022, foi oficialmente criada a Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de São José, com a qual muitas pessoas ainda não estão familiarizadas. A’O CLARIM, o seu director Jacky Ho Chung Kin, concedeu uma entrevista, tendo explicado a filosofia da instituição e revelado os planos para o seu desenvolvimento futuro.
O CLARIM – Por que razão a Universidade de São José integrou, em 2022, os Departamentos de Serviço Social e de Psicologia na nova Faculdade de Ciências da Saúde?
JACKY HO – Em 2022, no âmbito da estratégia global de desenvolvimento da USJ e em resposta às necessidades para o seu desenvolvimento a nível regional e global, a Reitoria dividiu a Faculdade de Ciências Sociais e Educação em duas, tendo criado a Faculdade de Ciências da Saúde e a Faculdade de Educação. Ambas vêm formando profissionais para o País em geral, e para Macau em particular, com o objectivo de servir a comunidade e promover a saúde e o bem-estar da população.
CL – A Faculdade de Ciências da Saúde foi planeada há muitos anos, mas só recentemente foi inaugurada. Há diferenças entre o projectado anteriormente e o que está implementado actualmente?
J.H. – É verdade que no domínio das Ciências da Saúde há ainda muito espaço para a exploração e o desenvolvimento das profissões que os alunos pretendem alcançar. Por conseguinte, quando a nova Faculdade foi constituída, o objectivo principal era promover a saúde da comunidade local, bem como promover uma vida saudável e o bem-estar através de uma educação científica e de uma investigação inovadora. Hoje, formamos profissionais de excelência no domínio da saúde comunitária. Recordo que as disciplinas de Serviço Social e Psicologia foram as primeiras a serem disponibilizadas pela nossa Universidade, ainda estávamos na fase de pré-desenvolvimento. O mais importante é que temos vindo a formar profissionais relevantes para Macau ao longo dos anos. Uma vez que o Serviço Social e a Psicologia são parte integrante da saúde e do bem-estar geral do Ser Humano, é natural que a Faculdade tenha essas duas disciplinas como base curricular.
CL – Para muitas pessoas, o conceito de Ciências da Saúde é relativamente novo e nem todos as pessoas estão com ele familiarizadas. Do que se trata exactamente?
J.H. – Basicamente, há dois níveis de Ciências da Saúde. Por um lado, há as Faculdades e Universidades que dão formação profissional aos futuros agentes da saúde local. Quando saem da Faculdade estão habilitados para prestarem cuidados à população. Para o efeito, é-lhes concedida a respectiva acreditação profissional. Por outro lado, há a investigação em rede, estando muitas Faculdades e Universidades ligadas entre si, pois a área da Saúde requer muitos recursos humanos e a necessidade impreterível de parcerias com hospitais. No caso da Universidade de São José, temos estado a analisar todas as hipóteses com o intuito de estabelecer parcerias em Macau e/ou na sua região limítrofe. Continuamos a procurar o melhor perfil académico para a realidade de Macau. A nossa população está envelhecida, pelo que estamos a apostar na chamada “medicina complementar”, pois consideramos que é a melhor forma de respondermos às necessidades da comunidade. O futuro está numa maior mobilidade, que permita prestar os cuidados médicos à porta de casa, se for esse o caso.
CL – Um conceito chamou-nos particularmente a atenção: a “Tecnologia dos Idosos”. Em que consiste?
J.H. – Por exemplo, se uma pessoa idosa, ou com uma deficiência, necessitar de serviços de Medicina Chinesa, os dados inscritos numa plataforma, recolhidos através de tecnologia de observação de parâmetros de saúde, serão utilizados para analisar o estado de saúde da pessoa idosa ou com deficiência. De seguida, os cuidados são prestados ao domicílio por uma equipa profissional, treinada para o efeito. Mesmo que não estejam preparadas, as habitações podem ser ajustadas de acordo com as necessidades de cada pessoa. Quer se trate de habitações privadas ou públicas, as novas construções podem ser originalmente equipadas com instrumentos de monitorização, tais como dispositivos de medição da glicemia e da tensão arterial, e um frigorífico anexo. Os indicadores são armazenados numa base de dados, podendo os doentes partilhá-los com unidades de saúde, sejam elas públicas ou privadas. Desta forma, será também possível traçar o perfil da Saúde em Macau e reforçar a rede de cuidados, seja a que nível for.
CL – A Saúde é outras das áreas em que o Governo tem apostado por forma a alcançar a tão desejada diversificação económica…
J.H. – Com certeza! Aliás, a nossa Faculdade de Ciências da Saúde, em conjunto com o Grupo de Reflexão Doutoral de Macau, organizou o “Fórum Internacional de Jovens Médicos”, dedicado ao desenvolvimento da Indústria de Cuidados de Saúde, no âmbito do Turismo de Macau. Teve lugar no dia 11 de Novembro e um dos temas discutidos foi o objectivo do Governo de interligar a Indústria do Turismo e Lazer com outras áreas de actividade, entre as quais, a Saúde. Um dos pontos fortes de Macau é a Indústria Hoteleira, com as suas unidades de renome mundial, que combinada com o Património Mundial da UNESCO, é uma mais-valia em relação a outras cidades desta região. Podemos explorar a possibilidade de combinar estas vantagens com bons serviços médicos, por forma a tornar Macau um destino de cuidados de saúde único. E não estamos apenas a falar dos já tradicionais “check-ups”, mas da elaboração de programas de saúde personalizados.
CL – Serviço Social e Psicologia são domínios muito diferentes. Tal como o nome indica, a Saúde Mental insere-se nas Ciências da Saúde. Já o Serviço Social, de que forma entra nesta equação?
J.H. – De facto, muitas pessoas têm a ideia errada de que o Serviço Social está sempre sob a alçada das Ciências Sociais. Assim acontece em muitas Universidades, mas há uma área específica do Serviço Social que se enquadra nas Ciências da Saúde: o Serviço Social Médico. É precisamente esta área que estamos a desenvolver em termos académicos. É uma actividade transversal que abrange desde técnicos de saúde, até assistentes sociais, passando por várias valências exploradas por privados, principalmente ao nível dos cuidados paliativos. O Instituto de Acção Social e outras entidades públicas há muito que vêm criando uma rede de cuidados de saúde, em que todos os agentes são parte activa, independentemente de se tratar de investimentos públicos ou privados. Actualmente, a Faculdade de Ciências da Saúde tem dois departamentos, havendo planos para a criação de novos departamentos, à medida que formos desenvolvendo outros projectos.
CL – Que programas estão previstos para o ano-lectivo de 2024-2025?
J.H. – Vamos lançar um Mestrado em Serviço Social, centrado, especificamente, na Saúde Mental. Dado que não existe um programa especializado que responda às necessidades da profissão, temos estado a trabalhar neste programa e esperamos lançá-lo no ano académico de 2024-2025. Há também outros programas com os quais queremos avançar dentro de pouco tempo, relacionados com tratamentos alternativos e estratégias de intervenção, no que respeita ao envelhecimento e a doenças crónicas.
CL – Sabemos que está a estudar Gerontologia. O que significa? É outra das disciplinas a ser leccionada pela USJ num futuro próximo?
J.H. – A Gerontologia é o estudo e a investigação do processo de envelhecimento nos seres humanos, a partir das perspectivas médica, psicológica, social e política. É um estudo holístico do Ser Humano, por assim dizer. Não só estuda a situação actual em que o Homem se encontra, como projecta cientificamente o futuro. Ao fim ao cabo, estudamos os “futuros idosos” de uma sociedade, pois o passado dos idosos de hoje é muito diferente do passado dos idosos que ainda estão para nascer. No que respeita à oferta desta disciplina de estudo na Universidade de São José, não estamos apenas a elaborar um programa académico nesta área. Mais importante do que a teoria, é aplicar a Gerontologia a reais situações da sociedade, no seu dia-a-dia.
J.Y. com J.M.E.
Foto: Oswald Vas